Folha de S. Paulo
Cercado por CPIs, Lula se vê sob olhar
complacente da base
Se dependesse da vontade de gente séria do
governo e da oposição, a comissão
mista do Congresso para a alegada apuração dos fatos já investigados
em inquéritos sobre o 8 de
janeiro subiria no telhado e lá ficaria em eterno descanso. A má
vontade é evidente.
Na impossibilidade de recuo, a comissão
será instalada junto a outras três (MST,
fraudes nas apostas de futebol e Americanas) criadas na Câmara e mais
uma (abuso de autoridade) proposta na Casa comandada por Arthur Lira.
Governo nenhum gosta de CPI, o que dirá quatro, quiçá cinco. São instrumentos da minoria —normalmente residência de oposicionistas— e, portanto, carregam o potencial de provocar danos aos locatários do poder em curso.
O problema não está só na imprevisibilidade
dos desfechos, mas também, às vezes principalmente, nos rumos dos trabalhos e
nos usos que se venham a fazer deles.
Há inúmeros exemplos no Parlamento de
comissões criadas apenas para servir a interesses de ocasião. Moedas de troca
que, como vêm, vão depender do êxito ou do fracasso dos operadores do escambo e
da força dos lobbies.
Daí o empenho habitual em evitá-las. Daí
também a estranheza com o misto de inépcia e inércia dos aliados (os fiéis,
diga-se) de Lula em
tirar tal obstáculo do caminho.
Mesmo desgastado pelo trato nefasto da
pandemia, Jair
Bolsonaro postergou e só não conseguiu levar a CPI da
Covid do banho-maria ao arquivo porque o Supremo Tribunal Federal
obrigou o presidente do Senado a parar de se fazer de desentendido e ler o
requerimento de instalação.
Em menos de cinco meses, Luiz Inácio da Silva já
se vê sob cerco de CPIs e sob olhar complacente da base. Respeito à minoria?
Certeza de que vão se perder no palco da lacração? Não pensam assim governistas
em experiência de outros carnavais.
Suspeitam de que pode haver menos interesse
em investigar que em espreitar a hora certa de chantagear.
Curta e direta.
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