Folha de S. Paulo
Lula deve mirar Boric: direita já percebeu
a avenida aberta adiante
O chileno Gabriel Boric errou
ao embarcar na
canoa do entusiasmo esquerdista de tentar impor suas pautas na
proposta de nova Constituição. O presidente foi derrotado no referendo de
setembro passado, e oito meses depois a extrema
direita ganhou maioria e poder de veto no conselho
constituinte.
O que isso tem a ver com a política
brasileira na forma como vem andando nossa claudicante carruagem? Pode vir a
ter muito se o governo insistir em manter o pisca-pisca ligado à esquerda. Mas
a referência pode se mostrar indevida caso Luiz Inácio
da Silva se renda às evidências.
A principal delas é que o presidente está conseguindo, como Boric, o efeito contrário. Faz de Arthur Lira porta-voz do avanço enquanto se coloca involuntariamente no contraponto como arauto do atraso. A cena está fora de esquadro.
Político de identificação conservadora no
comando de um colegiado do mesmo perfil, o presidente da Câmara se posta na
condição de barreira a "retrocessos". Um progressista, pois. Já Lula
se ocupa de uma agenda regressiva ao tentar desconstruir o que foi bem
construído.
No lugar de andar para a frente, Lula
prefere olhar para trás. Por que perder tempo em espremer até o bagaço a
laranja de Bolsonaro que, sozinha, vai cair do galho? Por que rever atos
legalmente perfeitos do Parlamento? Por que atuar contra normas de boas
condutas nas estatais?
Lula radicaliza de um lado, afasta o centro
essencial na eleição dele e dá espaço para que os tipos desmoralizados no 8 de janeiro radicalizem
de outro.
A direita civilizada, por assim dizer, já
percebeu a avenida aberta adiante e se anima a transitar por ela, desistindo de
aderir ao presidente como ocorrido nos mandatos anteriores do petista.
Sem correção no rumo não há distribuição de emendas nem boa vontade do Supremo que dê jeito. Disso darão notícia as urnas de 2024.
Sei.
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