O Globo
Entidade conta com 50 mil funcionários,
desenvolvendo projetos em países como Bangladesh, onde nasceu
Será que uma ONG pode mudar um país?
Olhando para o trabalho da Brac em Bangladesh,
é inevitável concluir que sim.
A Brac é hoje a maior ONG do mundo. Seu
orçamento anual é de US$ 1,5 bilhão, e ela conta com 50 mil funcionários,
desenvolvendo projetos em países como Bangladesh, onde nasceu, mas também Afeganistão, Ruanda, Serra Leoa, Filipinas e
vários outros. Seu fundador, Fazle Hasan Abed, é provavelmente o maior
empreendedor social deste século.
Eu sonhava havia anos conhecer a Brac, para aprender com sua expertise. Recentemente o sonho se realizou. Passei uma semana em Bangladesh fazendo uma imersão na ONG e firmando parcerias que potencializarão o trabalho da Gerando Falcões aqui no Brasil.
Minha primeira surpresa positiva foi
perceber que a Brac e a Gerando Falcões compartilham a ideia de que a missão do
terceiro setor não é passar uma demão de tinta na vida do pobre, mas estudar e
construir saídas permanentes, estruturadas, para a pobreza.
A Brac desenvolveu um programa pioneiro
chamado Ultra-Poor Graduation. Sua premissa é incrivelmente simples: quem vive
na extrema pobreza tem capacidade suficiente para se sustentar, mas tal
capacidade é suprimida pelas circunstâncias sociais.
Logo, é preciso transformar esse contexto
inteiro, de forma holística, com uma visão 360°, e não se ater somente às ações
de transferência de renda. Se oferecemos aos mais pobres uma saída real, eles
terão muito mais chances de permanecer “de pé” com autonomia.
O programa de Graduação da Brac atende 70
mil pessoas por ano em Bangladesh, com resultados impressionantes: 95% dos
participantes conseguem sair da extrema pobreza, e quase todos (93%) continuam
a sentir benefícios advindos do programa por até sete anos. São estatísticas
apresentadas não só pela Brac, mas corroboradas por órgãos como a Comissão
Independente para o Impacto dos Programas de Ajuda (Icai, na sigla em inglês),
do Reino Unido.
Com isso, a Brac está ajudando a
revolucionar o panorama social de Bangladesh. O país, que já foi um dos dez
mais pobres do mundo, cresce hoje 7% ao ano, resultado de 2022. O contingente
abaixo da linha da pobreza, que há três décadas correspondia a 80% da
população, hoje está estimado em 10,5%, embora o número real possa ser um pouco
maior, dado o impacto da pandemia.
Gradualmente, Bangladesh sai da miséria
para se tornar um país de renda média, e não é exagero dizer que a Brac teve
papel decisivo nessa transformação.
Esse contexto ajuda a explicar o acordo de
cooperação mútua que ela acabou de firmar com a Gerando Falcões. Incorporaremos
tecnologias do programa Graduation ao nosso Favela 3D, aperfeiçoando nossas
estratégias de superação da pobreza, de monitoramento de qualidade e de
escalabilidade. Graduation e Favela 3D, afinal, compartilham o mesmo DNA de
combate à pobreza por múltiplas frentes.
A Brac, diante do avanço econômico e social
de Bangladesh, precisa “aprender” a combater a pobreza num país emergente,
especialmente a pobreza urbana. O conhecimento construído nesses três anos de
Favela 3D, com geração e publicação de dados objetivos, quantificáveis, é
fundamental, portanto, para que a Brac planeje suas próximas ações e mantenha
sua capacidade de inovação neste novo Bangladesh.
A pobreza é um problema global e globalizado. Enquanto existir em um único lugar, o desenvolvimento sustentável da humanidade toda está em risco. Minha visita a Bangladesh serviu, acima de tudo, para reforçar a crença de que só venceremos a pobreza com soluções igualmente globais e globalizadas.
Boa sorte!
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