Folha de S. Paulo
Tecnologia permite ganhos econômicos
capazes de pôr em dormência conflitos que desestabilizam a política
Platão não era um amigo da democracia. Para ele, dar mando à turba significava pôr a ignorância no poder, o que levava à tirania. Aristóteles era um pouco menos hostil à democracia, mas não chegava a ser um entusiasta desse regime. Para o estagirita, a democracia nada mais é do que a forma corrompida do governo conduzido por muitas pessoas, o que não deixa de ser uma espécie de tirania, já que nele a lei tende a ser substituída pelas conveniências da maioria.
Para os gregos de um modo geral, associar
democracia, e a própria política, à ideia de deterioração era comum. Não chega
a ser uma surpresa, considerando que os gregos viam a história como um processo
cíclico, em que geração e corrupção se sucedem. Foi preciso o cristianismo, o
iluminismo e o ocaso de alguns regimes ditatoriais para que fosse possível
vislumbrar a história como um processo linear e progressivo no qual a
democracia despontaria como algo mais ou menos inevitável. Um dos defensores
mais vocais dessa concepção foi Francis Fukuyama,
autor de "O Fim da História e o Último Homem" (1992), no qual
sustentava que as democracias liberais e o livre mercado eram a forma final da
governança humana. A recessão democrática vivida por vários países, do Brasil à
Itália, entre tantos outros, nos faz parar para pensar.
Não sei se a história é linear ou circular,
mas acho que dá para afirmar com segurança que, se os ciclos forem suficientemente
longos, isto é, maiores do que vidas individuais, boa parte das pessoas os
experimentará como uma sequência de progresso cumulativo. Se isso é verdade,
tão importante quanto defender os regimes democráticos de investidas
autoritárias é assegurar a manutenção dos avanços tecnológicos. São eles que
possibilitam um crescimento econômico capaz de pôr em estado de dormência os
conflitos que trazem instabilidade a qualquer regime político. São eles que
alargam os ciclos.
Sim.
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