quarta-feira, 17 de maio de 2023

Lu Aiko Otta - Secretário do PPI fala sobre o novo PAC

Valor Econômico

Emendas individuais não existem em nenhum outro país

Criado no governo de Michel Temer como uma força-tarefa para destravar concessões num cenário de restrição fiscal, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) administra hoje uma carteira de R$ 200 bilhões e tem funcionado como um ponto de interlocução da poderosa Casa Civil da Presidência com o setor privado, disse a esta coluna o secretário especial Marcus Cavalcanti. Passam por lá desde as encrencadas concessões de rodovias e aeroportos do governo Dilma Rousseff até os polêmicos decretos do saneamento.

O secretário tem participado também da formulação da nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ser lançado nas próximas semanas.

Na parte de investimentos públicos, que será de pouco mais de R$ 70 bilhões, a tendência é que não haja grandes obras, informou. A lista não está fechada. Um critério é priorizar projetos que sairão do papel mais rapidamente.

Da carteira do PPI, deverão entrar concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs). Como já foi dito neste espaço, duas novidades devem ser: um conjunto de PPPs federais e um impulso às PPPs de Estados e municípios, agora com o Tesouro Nacional como avalista.

Cavalcanti conta que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda 3 mil quilômetros de rodovias, boa parte deles no Nordeste, e o Ministério dos Transportes analisa um trecho de rodovia ligando Luís Eduardo Magalhães a Barreiras, ambos na Bahia. Nos dois casos, é possível que resultem em PPPs.

Esse instrumento, que o governo federal só utilizou até agora para criar um datacenter, terá seu uso expandido para as mais diversas áreas, disse o secretário. É uma forma de contornar os limites ao investimento público trazidos pelo cenário fiscal.

PPPs pressupõem que o governo fará pagamentos a seu sócio privado durante os anos em que durarem os contratos, que são de longo prazo. Quanto mais segurança as empresas tiverem de que vão receber sua parte, maior a atratividade do empreendimento.

Uma dúvida que surgiu nas últimas semanas era: como transmitir essa segurança, dado que o governo federal terá seus gastos limitados pela regra fiscal. Segundo o secretário, uma possibilidade seria excluir esses pagamentos do teto de despesas do novo arcabouço.

No entanto, o relatório do deputado Cláudio Cajado (PP-BA) apresentado na noite da última segunda-feira não fez essa mudança. Assim, explicou o Ministério da Fazenda, “eventuais compromissos orçamentários relacionados a esse assunto observarão os limites de despesa global previsto no projeto de marco fiscal sustentável”.

O governo federal possui o Fundo de Desenvolvimento da Infraestrutura Regional Sustentável (FDIRS), com R$ 800 milhões. No entanto, informou o Ministério da Fazenda, “estão sendo estudadas todas as formas de redução de riscos dos eventuais projetos de PPPs federais”.

No caso de Estados e municípios, a entrada da União como avalista é uma mudança radical no patamar de risco. Será possível destravar um grande número de projetos, disse o secretário. No entanto, nada ocorrerá de imediato. A novidade ainda precisa ser digerida, para que projetos sejam elaborados de acordo com as novas condições.

Também nesse caso há um debate técnico sobre quanto o Estado ou município precisará reservar de seu limite de endividamento junto à União para acessar a garantia a suas PPPs. Se for o valor integral do projeto, muitos preferirão tomar empréstimo e fazer o investimento de forma direta, em vez de contratar PPP, comentou o secretário.

O aval da União será importante para impulsionar PPPs na área de saneamento em Estados e municípios, destacou Cavalcanti. Essa será uma linha prioritária de atuação do PPI, dada a meta de universalização de serviços até 2033.

Na visão do secretário, a regulamentação do setor colocava o setor privado como solução única para garantir serviços de água e esgoto à população. O que se buscou fazer, com os novos decretos, foi abrir novas opções para que o setor público também possa atuar, segundo explicou.

“Tem município em que você nunca vai conseguir, politicamente, que o prefeito aprove uma concessão daquele serviço dele”, exemplificou. Nesse caso, conforme a legislação, o município não teria mais acesso a linhas de financiamento. “Então, não estou privilegiando o cumprimento de uma meta de universalização.”

As mudanças feitas por decreto, poucos meses após o Congresso Nacional aprovar uma nova lei para o setor, trouxeram instabilidade regulatória. De quebra, renderam ao governo a primeira derrota na Câmara dos Deputados e um duro recado de seu presidente, Arthur Lira (PP-AL): o de que não serão admitidos retrocessos.

Criador do Programa de Parcerias de Investimentos, o ex-ministro Moreira Franco gostava de dizer que se moveria devagar, para andar rápido. Foi na base da cautela que o programa de concessões voltou a rodar, após o impacto da Lava-Jato. Num setor que assume riscos em projetos que duram décadas, solavancos e voluntarismo não são bem-vindos.

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