Folha de S. Paulo
Acossado no front doméstico do Congresso,
Lula ainda comete disparates internacionais
Apesar dos delírios de grandeza de Lula 3, não há
hipótese de seu governo ser capaz de fazer algo que preste pelo fim da guerra
da Rússia contra a Ucrânia. O Brasil mora longe, é mal pago, não tem
dinheiro ou armas.
Haveria chance pequena de fazer algo pela Venezuela. Por exemplo, um acordo de líderes regionais para elaborar um plano de transição no país vizinho. Não costuma dar certo, mas é o que temos. Além do mais, a maioria da América Latina está mal das pernas, para variar, em crises mais ou menos graves na economia e em surtos de burrice e violência, recorrentes. Mas, pelo menos, poderia ser uma alternativa ao projeto cruel e fantasista dos Estados Unidos de entregar o país à direita lunática e de matar os venezuelanos de fome.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva preferiu,
no entanto, estimular Nicolás Maduro a mentir ainda mais e a inventar uma
"narrativa" para a ruína sórdida que esse tiranete ajudou a
criar por lá. Tratou Maduro como amigão e fez um discurso entusiasmado a favor
da propaganda enganosa.
Poderia ser apenas espuma de disparate
isolado. Não é o caso. O governo de Lula 3 ainda tenta remendar o estrago de
sua aventura russo-ucraniana. Há o risco de vexame internacional no ambiente.
Juntem-se as palavras "oil",
"Amazon", "native Brazilians" e Lula em uma manchete de um
texto que trataria da exploração
de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, o mar diante do Amapá e de Marajó
(Pará).
A reportagem imaginária trataria também da derrota
dos defensores de demarcação de mais terras para indígenas (o tal
"marco temporal"). Contaria também que a direita fez um
"strike", derrubando um monte de pinos progressistas. Rapou parte do
recheio dos ministérios de duas mulheres não-brancas (Marina
Silva e Sonia Guajajara), defensoras da floresta, do ambiente, de
povos originários e de outros povos prejudicados.
Como se sabe, o agro ogro, clientelistas e
a direita chucra em geral tiraram órgãos e instituições dos ministérios do Meio
Ambiente e dos Povos Originários.
Essa reportagem imaginária explicaria que
essas derrotas se devem ao fato de Lula 3 não ter força no Congresso e, também,
de que integrantes de governo e do PT não ligam muito lá para ambiente e
indígenas. Para completar, falta apenas a Amazônia pegar fogo por causa da
temporada de El Niño que se aproxima —nada a ver com Lula, decerto, mas o
estrago estaria completo: "Lula não contém ruína ambiental no
Brasil".
Como se não bastasse o risco de má fama
internacional, os disparates e tropeços políticos do governo se juntam às
bobagens e tombos domésticos.
Na semana passada, Lula
lançou o "Mais Carros", um troço literalmente sem pé nem cabeça.
Uma ideia econômica, tecnológica, social e ambiental já em si ruim, foi
anunciada de resto sem qualquer fundamento, sem contas de custo e benefício. Um
fiasco.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e
premiê informal do governo semipresidencialista de coabitação (PT no Executivo,
direita no Congresso), está deixando o barco correr e tripudia. Toma cuidado
apenas nos casos dos "projetos de país", como o arcabouço fiscal e
outros assuntos que interessam também aos donos do dinheiro.
Acaba de dizer que o governo não apresentou
plano algum para resolver o problema da demarcação das terras indígenas e que,
assim, vai tomar uma tunda, com beneplácito de Lira. Disse que a Câmara vai
fazer o que quiser quanto à organização dos ministérios; que ele, Lira, lava as
mãos e que o petista se vire com as hienas. Em suma, Lula 3 não tem força nem
ao menos para reorganizar o governo, pós-trevas de Jair Bolsonaro.
Com tanto rolo, Lula ainda deu o show
venezuelano para agradar à plateia mais retrógrada do PT. Durma-se com um
Maduro desses.
Verdade.
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