Folha de S. Paulo
Lula pediu que fosse cobrado; pois vamos
cobrá-lo
Ao ver Lula
e Maduro na maior confraternização, não há como não pensar: cadê um
amigo para dar um toque? Não tem. Apoiadores e aliados políticos tratam o
presidente como uma criança mimada que não deve ser contrariada. Imaginam que,
com o silêncio, conseguem falsear apoio irrestrito do eleitorado às ações do
presidente, quando, de fato, servem de trampolim para que ele se jogue na
fogueira.
Lula, por sua vez, usa a Presidência em situações delicadas para fazer seu próprio cercadinho para o militante incondicional. Sabemos o que acontece com quem governa assim. Não pegou bem nem entre os líderes no encontro de sul-americanos. O uruguaio Luís Lacalle Pou, por exemplo, estranhou o encontro bilateral antecipado e o endosso de Lula de que a crise democrática na Venezuela é "narrativa": "É tapar o sol com a mão", disse Pou.
O festerê em torno do ditador venezuelano é
um vexame mundial, mas principalmente um escárnio diante dos brasileiros que só
apertaram 13 contra a ameaça de que o Brasil virasse exatamente o que foi feito
no país vizinho, uma ditadura. A bajulação com a qual Maduro foi recebido
parece desdém em relação a um momento em que os alicerces da nossa própria
democracia ainda estão fragilizados depois do último governo e sua agenda
golpista.
Os eleitores preferem tapar o sol com a
peneira e se calam, porque criticar Lula seria engrossar o coro da oposição,
que deita e rola. Mas silenciar diante do enaltecimento de um ditador é assumir
a própria falta de compromisso com o fortalecimento de nossas instituições.
Em dezembro, ao anunciar seu ministério,
Lula pediu que fosse cobrado. "Não deixem de cobrar, porque se vocês não
cobram, a gente pensa que tá acertando. Quero dizer em alto e bom som: nós não
precisamos de puxa-saco. Um governo não precisa de tapinha nas costas. Um
governo tem que ser cobrado todo santo dia."
Pessoal, está liberado.
Pois é.
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