Folha se S. Paulo
Dia ruim no mercado financeiro mundial
indica riscos e medos que afetam o Brasil
Esta quarta-feira (3) é dia decisão
sobre taxas
básica de juros nos Estados
Unidos e no Brasil. Será mais um dia de escaramuças políticas por
causa da Selic. É também um dia conveniente para revisar o que se passa na
economia mundial, para o que pouco damos atenção, apesar de tanto dessa vida lá
fora nos influenciar tanto por aqui. Influencia também a decisão do Banco
Central brasileiro.
A terça-feira (2) ruim nos mercados
financeiros sugere alguns motivos de atenção. Sim, a leitora pode não gostar
deles e de seus solavancos, mas isso equivale a não gostar da previsão do tempo
e sair pelado em dia de prognóstico de neve, no caso extremo.
Há uma crise financeira que, para alguns, segue em banhomaria e esfriando, mas pode estar apenas fervendo baixo. Os donos do dinheiro desconfiam dos bancos médios americanos. Alguns mais visados chegaram a perder de 10% a 28% do valor de mercado nesta terça-feira de tombos nas Bolsas do mundo e aqui.
Persiste a conversa de que as desconfianças
de clientes, de seus credores, talvez apertos regulatórios e balanços fracos
afetam bancos de modo relevante e terão (ou já têm) efeitos secundários na
economia real, no crédito.
Economistas de um bancão como o JP Morgan
dizem que se tem prestado pouca atenção no risco de uma crise no setor
financeiro não-bancário. Quase 15 anos de taxas de juros globais muito baixas
podem ter criado uma dependência tão grande que largar o hábito pode causar
traumas.
Por falar nisso, o
JP Morgan acaba de comprar os restos de um desses bancos médios que foram à
breca, ou quase, mas a tensão, se não a crise, continua.
Os sinais de esfriamento da economia
americana se tornam mais frequentes. O
mercado de trabalho dá sinais de que pode voltar ao normal (está muito
acima disso).
No mundo, cai o preço de commodities, como
o petróleo. Nem o
corte de produção do cartel, da Opep,
adiantou. Depois de um pico de US$ 87 em abril, o preço do barril do tipo Brent
desceu de novo à casa dos US$ 75. O consumo de diesel, um termômetro de
atividade e comércio mundial, está em baixa. O preço caiu até por aqui.
Economia mundial mais fria em tese pode dar
em taxas de juros menores ou em alta contida, o que facilita o trabalho do BC
do Brasil.
Uma decorrência do esfriamento, ou da
especulação a respeito, é a baixa ou contenção do preço de commodities
(petróleo, ferro, carnes etc.). Se também dólar ficar ao menos na casa dos R$
5, é mais uma contribuição para a contenção dos preços no Brasil.
No entanto, apesar de melhoras mínimas e
lentas, a
inflação continua alta. A expectativa de inflação para 2024 não baixa. A
inflação de serviços continua ruim e não deve baixar até que sobrevenha
contenção de aumento do salário médio. A
concessão de crédito bancário cai desde o final do ano passado. Pode
ser um aviso de resfriamento a partir do segundo semestre, mas temos estado
muito no escuro sobre indicadores econômicos brasileiros.
Pressões menores na inflação têm um avesso
em tese ruim. Uma economia mais fraca no mundo pode provocar baixas por aqui.
Podem ser efeitos diretos, como no comércio menor, contágios etc. Commodities
em baixa diminuem a arrecadação de impostos, tudo mais constante. Para que o
teto Lula-Haddad dê certo, é preciso arrecadar mais imposto. O destino da
arrecadação vai temperar as reações da praça financeira e agentes econômicos
maiores a respeito do dito arcabouço fiscal.
Enfim, crises ou tensões financeiras
importantes são de digestão lenta e incerta. Uma explosão nos afeta.
Mesmo a
"marolinha" de 2008 causou uma minirrecessão por aqui em 2009 —isso
quando o país estava perto do auge econômico dos últimos 40 anos.
Lendo e aprendendo.
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