O Estado de S. Paulo
Para a política econômica, o eixo de decisões se deslocou do Planalto para o Congresso
Amanhã da última terça-feira foi mais
tranquila para os ocupantes do Palácio da Alvorada. Passaram longe dali as
colunas de carrões e SUVs transportando os chefes das Casas Legislativas, o
ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central (BC) e um grupo de
empresários de peso dos segmentos de finanças, indústria, serviços, varejo e
agronegócio.
Rumavam para o Lago Sul, para a residência oficial do presidente do Congresso Nacional, onde se reuniram para uma discussão aberta sobre como seria a tramitação das regras para cuidar das contas públicas. E também como tratar de fazer passar depressa algum tipo de reforma tributária.
Em outros tempos, esse tipo de reunião
teria ocorrido no Palácio da Alvorada ou no Palácio do Planalto. O que
aconteceu na última terça-feira foi a demonstração visível de como o eixo de
poder se deslocou em Brasília. Boa parte do que se discutiu na reunião foi
aprovada na noite do mesmo dia com o nome de arcabouço fiscal. A segunda parte
vem agora, a da reforma tributária.
A Câmara dos Deputados impôs ao governo uma
série de travas e restrições em matéria fiscal. Elas são um recado, sobretudo
político, dado pela base parlamentar que é do presidente da Câmara, deputado
Arthur Lira (Progressistas-AL), e não do presidente da República. Seu
verdadeiro teste, porém, será o da reforma tributária. É dela que os vários
segmentos da economia esperam o “ganho de produtividade” capaz de fazer o PIB
crescer em ritmo melhor. Não há ilusões quanto ao marco fiscal: a dívida não
deve cair significativamente, portanto os juros não vêm para baixo tão depressa
(foi isso o que o presidente do Banco Central deixou claro no Lago Sul). E o
governo vai se concentrar pesadamente em arrecadar, dominado pela necessidade
de fazer a receita subir – portanto, para as empresas só há ganhos se houver
simplificação de impostos.
Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ainda tinha dúvidas, falando lado a lado, os presidentes das Casas Legislativas
deixaram claro quem é o dono da agenda de política econômica nas próximas
semanas. São eles, escorados em um entendimento direto com vozes dos vários
setores da economia. E com o ministro da Fazenda, que está sendo visto como
figura deslocada em relação aos homens fortes petistas dentro do Palácio do
Planalto.
Foram eles, e Lula, os principais ausentes.
Então tá.
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