Folha de S. Paulo
Maior parte de seus apoiadores dá como
certa sua inelegibilidade
Quando perguntado sobre seu próprio futuro
político, Jair
Bolsonaro foi evasivo. "Eu não sei se vou estar vivo quando virar
a esquina" foi a resposta dada durante uma coletiva de imprensa realizada
na última quarta (21).
A linguagem mais sóbria, permeada por
termos jurídicos, bem como o tom moderado e respeitoso dirigido aos jornalistas
presentes no dia, refletiam alguma esperança de pacificar seus potenciais
algozes no julgamento do Tribunal Superior
Eleitoral que pode torná-lo inelegível.
Para além disso, a ausência da agressividade e do histrionismo que lhe são característicos ainda revelava a indecisão sobre o rumo a ser seguido.
Desde o seu retorno ao Brasil, no dia 30 de
março, Bolsonaro optou por manter uma postura mais reservada. Contudo tal
silêncio não ajudou a reverter a crescente apatia e desmobilização de parte
expressiva de seu eleitorado desde sua derrota nas urnas.
Após a invasão
golpista no dia 8 de janeiro, vários de seus eleitores já haviam passado a
confirmar sua preferência por outros candidatos nas próximas eleições
presidenciais, sobretudo por Tarcísio
de Freitas, atual governador de São Paulo.
Na visão de parte expressiva do eleitorado
direitista, Bolsonaro adotou uma conduta covarde e pouco republicana ao ter
abandonado o país logo após ter sido derrotado, acentuando ainda mais o
descontentamento com seu radicalismo desvairado.
Agora, considerando que a maior parte de
seus apoiadores dá como certa sua inelegibilidade, o direcionamento de sua
atenção a outros políticos deve se tornar fato consumado.
A despeito de 43% dos brasileiros serem
contrários à condenação de Bolsonaro,
de acordo com uma pesquisa da Quaest, nas redes sociais, o julgamento do TSE
registrou uma mobilização aquém da esperada por analistas.
De acordo com os dados coletados pela
Arquimedes entre os dias 25 de maio e 10 de junho, foram veiculadas apenas 53,8
mil menções no Twitter, Facebook e Instagram sobre o assunto. Menos da metade,
47%, foi postado por contas alinhadas ao ex-presidente e obtiveram repercussão
reduzida.
Segundo a Bites, que realizou um
levantamento no Twitter nos dias 5 e 6 de junho, a militância digital do ex-presidente
teria perdido o fôlego e já antecipa o pior cenário. Além disso, a empresa
registra ainda que Bolsonaro tem perdido seguidores no Instagram, Facebook e
Youtube e que a baixa frequência de postagens em suas redes já teve um impacto
negativo de 80% nas interações com o público.
No dia 22 de junho, início do julgamento,
Bolsonaro finalmente resolveu voltar a mobilizar seus apoiadores.
Em Porto Alegre, vociferando contra seu
principal oponente, alertou: "Hoje começa o meu julgamento político. Ou melhor,
não é político, é politiqueiro. Da mais baixa intenção por parte de alguns. Não
estou atacando o TSE. Mas a fundamentação é inacreditável: ‘Reuniu-se com
embaixadores’. O outro cara, no ano passado, se reuniu com a nata do PCC no
Complexo do Alemão, no Rio, e vai se reunir com a nata do Foro
de São Paulo".
Valdemar
Costa Neto, presidente do PL, rapidamente passou a reforçar a suposta
injustiça sofrida. Porém, a despeito do jogo de cena, já se sabe que Bolsonaro
dará mais resultados como cabo eleitoral do que como candidato em 2026.
*Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
Pois é.
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