Folha de S. Paulo
Governo vai colecionar derrotas enquanto
ignorar o novo ambiente congressual
As chamadas jornadas de junho de
2013 ainda são, dez anos depois, um enigma a ser
perfeitamente desvendado. O assunto é complicado mesmo, pois, embora
a gênese tenha sido a insatisfação do público pagante de impostos, os efeitos
são vários e seguem em processo de compreensão.
Já a razão pela qual o país transitou de
um presidencialismo
de coalizão para uma rotina de colisões entre os Poderes
Executivo e Legislativo não
é um mistério tão difícil assim de ser elucidado. As causas não são ocultas, e
as consequências, evidentes.
No Parlamento predomina uma visão de mundo diferente daquela preponderante no Palácio do Planalto e área de influência. Não é um dado novo e, em governo eleito por um triz, cenário mais que esperado.
Acrescente-se aí, porém, uma novidade: a
existência explícita e expressiva de um eleitorado de direita a quem aquela
maioria passou a dever satisfações. Sob pena de não renovar os mandatos. Prova
disso são os fracassos nas urnas, em 2022, de bolsonaristas de 2018 que mudaram
de lado no meio do caminho.
Nos governos anteriores do PT, a realidade era outra:
havia uma grande massa meio amorfa que prestava submissão ao Executivo. Devido
à preferência pelas benesses do poder em curso, dedicava-se primordialmente ao
exercício do fisiologismo.
A prática continua em cartaz e até mais
agressiva num Congresso de poderes reforçados. Só que a ela se juntou o fator
ideológico, e isso requer mudanças de procedimentos.
Se antes as negociações já precisavam ser
feitas caso a caso, em geral mediante a concessão de alguma vantagem, agora é
preciso levar em conta também o interesse do parlamentar em relação aos valores
da respectiva base eleitoral.
Por isso, se o governo insistir em pautas
que não atendam ao quesito identitário, vai colecionar quantas derrotas forem
as vezes em que tentar ignorar a existência dessa alteração no ambiente
congressual.
Correto.
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