O Estado de S. Paulo
O Banco Central pede calma, mas Lula tem pressa e despreza vitórias e troféus
Como previsto, a semana reservou boas
notícias para o presidente Lula, mas nem tudo são flores e Lula, que gosta de
espinhos e farpas, em vez de curtir as vitórias e troféus, ganhou espaço
atirando contra o Banco Central e o acordo União Europeia-Mercosul. Não que
esteja totalmente errado, mas era hora de capitalizar o que foi bom e
menosprezar o que está saindo mal, até a volta ao Brasil.
Lula teve duas vitórias no Senado, a aprovação do seu advogado Cristiano Zanin para o STF e a do projeto original do arcabouço fiscal, como o governo queria. Não por mera coincidência, a votação de Zanin foi de 58 a 18 e a do arcabouço, de 57 a 17, o que, apesar das peculiaridades de cada uma, projeta uma boa margem de segurança para o governo num plenário de 81 senadores.
Tudo ia bem, mas a comemoração de Lula por
Zanin, arcabouço fiscal e os dois placares no plenário, se é que houve,
sucumbiu diante das novas saraivadas contra o BC e os juros. Lula preferiu
surfar nas pesquisas de opinião que animam seus ataques aos juros a surfar na
reversão de tendências: depois de fortemente criticado, o governo passou a
receber – e dar – boas notícias.
Não houve surpresa na decisão de manter a
taxa de 13,75% ao ano, mas, sim, diante da ata da reunião do Copom que ignorou
o recuo da inflação, os indicadores econômicos internos, os ventos externos e o
avanço do acordo fiscal, e não deu um único sinal de queda nos juros em agosto,
defendendo “cautela e parcimônia”. E Lula tem pressa.
Na Europa, além do Coldplay, destacam-se
dois troféus. O abraço de Lula no papa Francisco, uma imagem poderosa para o
público interno e o mundo. E o encontro com a primeira-ministra da Itália, a
extremista de direita Giorgia Meloni, um bom antídoto contra os salamaleques de
Lula para Nicolás Maduro, Xi Jinping e Vladimir Putin. Ajuda o discurso oficial
de que “política externa não se faz com ideologia, mas com pragmatismo”.
Ele foi recebido com pompa e até carinho
por toda parte, discutindo ambiente, miséria e paz, mas, já no final, depois da
reunião com Emmanuel Macron, em Paris, preferiu abrir as manchetes com uma
cacetada na nova proposta europeia para o acordo EUMercosul. Para ele, é
“inaceitável”. Para seu assessor especial, Celso Amorim, caracteriza
“neocolonialismo”. O acordo subiu no telhado.
Lula volta ao Brasil com a política pegando
fogo. O TSE avança na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, deixando
dúvidas sobre os efeitos no bolsonarismo. E o arcabouço fiscal sai do conforto
do Senado e volta para nova batalha na Câmara. Aliás, e a novela do Ministério
do Turismo?
Pois é!
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