O Estado de S. Paulo
Ok, o governo está sem rumo, mas Lira cobrar ‘articulação’ cheira a mensalão e a petrolão
A distância, durante duas semanas de
férias, a sensação foi de que o presidente Lula continua fazendo e falando
bobagens, sem enxergar a realidade: o governo está sem rumo, refém do Congresso
e anunciando medidas que parecem fantásticas, mas não se sustentam 24 horas e
deixam ministros e assessores quebrando a cabeça para consertar o estrago.
A tábua de salvação pode ser a economia
(atenção: pode...), com a inflação apontando para baixo e o crescimento para
cima. Mas o governo precisa ajudar, não atrapalhando nem ignorando crises,
criando confusões desnecessárias, falando besteiras, lançando o que o próprio
presidente chama de “ideias mirabolantes”.
Os “carros populares” são uma dessas “genialidades”. Os carros não eram tão populares, o plano era só uma ideia e, enfim, está sendo “repaginado” para ônibus e caminhões, segundo o apagador de incêndios Fernando Haddad. O governo não agradou ao consumidor, que parou de comprar, nem à indústria, que parou de vender. Nem à sociedade. Lula, ex-líder sindical no ABC paulista que prestigia carros e o setor automobilístico, está na contramão do mundo desenvolvido, que mira o futuro e soluções coletivas (metrôs, trens...), mais justas e saudáveis.
Isso lembra outras ideias que pareciam
muito bacanas, mas ninguém sabe, ninguém viu, como taxar os produtos chineses
que fazem a festa dos consumidores, baixar na marra os juros do crédito consignado,
inventar passagens aéreas a R$ 100 e até o programa Desenrola,
que nunca desenrolou. Também joga holofotes
na mania de Lula de trazer o Lula 1 e 2 para um mundo e um Brasil muito
diferentes e com uma novidade que amplifica erros, críticas e fake news: a
internet.
No início, Lula acertava na política
externa e errava na gestão interna. Agora, erra nas duas. Como fazer loas à
China e à Rússia e atacar EUA e Europa? Ficar em cima do muro na invasão da
Ucrânia? Considerar um “momento histórico” o encontro com Nicolás Maduro, que
destrói a Venezuela? Não é só um assombro para brasileiros, sul-americanos,
terráqueos e marcianos, mas uma indignidade com o povo venezuelano.
Dito isso, não é justo condenar só Lula
pela crise com o Congresso, que seria tomar partido a favor de Arthur Lira. Não
dá. Ok que Rui Costa (Casa Civil) não pode atacar Brasília e Alexandre Padilha
(Relações Institucionais) decepciona, anunciando calmaria na véspera das
tempestades. Mas Lira é Lira, usa métodos questionáveis, brinca de ser Eduardo
Cunha e, ao falar de “articulação”, traz de volta o grande risco: mensalões e
petrolões. Lula 3 acha que pode tudo, mas sabe que, aí, está seu maior perigo.
Sei.
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