O Estado de S. Paulo
Há sempre uma solução bolsonarista para cada problema lulista (e vice-versa): simples e errada
“Há sempre uma solução bem conhecida para
cada problema humano – simples, plausível e errada”, escreveu o jornalista
americano Henry Louis Mencken, no segundo volume de sua coleção de ensaios
“Preconceitos”, de 1920.
A frase que virou citação por mais de um século surgiu no capítulo “O sopro divino”, no qual Mencken trata da misteriosa faísca de inspiração e criatividade nas artes e letras, indicando que “explicações existiram desde sempre” para qualquer fenômeno, o que não quer dizer que estejam certas. “Os antigos”, segundo ele, “colocaram a culpa nos deuses”, que “às vezes eram mal-humorados, às vezes gentis”. Na Idade Média, outros abordaram o tema “e assim se lê sobre obras de arte inspiradas por Nossa Senhora, pelos Santos Beatos, pelas almas dos mortos e até pelo demônio”.
No Brasil atual, há sempre uma solução
bolsonarista para cada problema lulista (e viceversa) – simples, plausível e
errada. A obra de Mauro Cid, inspirada pelo medo de cadeia de Jair Bolsonaro, é
um exemplo.
No roteiro do golpe, encontrado no celular
do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, alega-se que, “nestas eleições, o
ministro Alexandre de Moraes
nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez
que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. No item 4.3, que
lista medidas a serem tomadas após o reconhecimento das “inconstitucionalidades
praticadas pelo Judiciário”, lê-se no tópico “g”: “tendo sido afastados
ministros do TSE”, em consequência de “violação da prerrogativa de outros
poderes, devem ser chamados a integrar a Corte os respectivos substitutos”:
Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.
Os dois primeiros foram nomeados por Bolsonaro.
O último foi blindado por ele e seus filhos contra a CPI da Lava Toga no Senado
(que investigaria, inclusive, a abertura do inquérito das fake news), enquanto
paralisava no STF investigações sobre Flávio. O bolsonarismo, em razão dos
fantasmas de seu passado, sabotou uma solução constitucional contra eventuais
desvios de ministros de tribunais superiores e, diante da derrota nas urnas,
tentou apelar a soluções inconstitucionais, agora usadas por Lula como
contraponto ideal em suas tentativas de canonização, blindagem e controle.
Na semana de início do julgamento no TSE que tende a tornar Bolsonaro inelegível, o Senado tende a avalizar a indicação ao Supremo do advogado do presidente, Cristiano Zanin. Momento emblemático do país das soluções simples e erradas. O estado de sítio de Atibaia venceu o estado de sítio..l
Então tá!
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