Folha de S. Paulo
Ex-presidente deveria ter respondido sobre
suas condutas diante do Parlamento
Dá-se como certo que Jair
Bolsonaro será punido com a inelegibilidade.
Não tenho dúvida que, entre os vários crimes do ex-presidente, há um punhado de
delitos eleitorais que justificariam a perda dos direitos políticos. Eu não
reclamaria de uma sentença com esse teor. Receio, porém, que a
responsabilização de Bolsonaro, considerada holisticamente, esteja deixando
muito a desejar.
O primeiro grande erro, que vai para a conta do Legislativo e da sociedade em geral, ocorreu ainda durante o mandato do capitão reformado. Ele cometeu uma série de crimes de responsabilidade. A comissão de juristas que apresentou o chamado superpedido de impeachment contou duas dezenas deles. O ideal do ponto de vista das instituições teria sido que Bolsonaro respondesse por suas condutas diante do Parlamento. Em caso de condenação, teria perdido o cargo e ganhado oito anos de inelegibilidade, numa necessária sinalização de que a Presidência não vem com um cheque em branco.
Não termos conseguido fazer nem que a
Câmara debatesse a abertura de um processo de impeachment é
um dos fracassos coletivos do país.
O segundo erro foi do TSE. O principal
crime eleitoral atribuído ao ex-presidente é bem anterior ao pleito. Em tese, o
tribunal deveria tê-lo julgado antes de o país ir às urnas. Do ponto de vista
da justiça, é preferível tirar o candidato a cassar o presidente. Na primeira
hipótese, o eleitor pode escolher outro postulante; na segunda, a opção que ele
fez é desconsiderada. Do ponto de vista da política, o jogo é diferente. Teria
sido difícil, para o TSE, excluir Bolsonaro da disputa. O corolário, meio
assustador, é que, se ele tivesse vencido, teria sido deixado em paz pela
corte.
Restam ainda as muitas infrações penais que
podem virar processo contra Bolsonaro. Mas estamos num momento dialético em que
acusações contra políticos não têm prosperado. Então eu não contaria muito com
isso.
Verdade.
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