Folha de S. Paulo
Dá-se uma importância além da conta aos
efeitos das conversas políticas
O governo Lula tem
conseguido aprovar
no Legislativo itens de sua pauta econômica com relativa tranquilidade,
mas, em outros temas, tomou várias traulitadas. A mais notável talvez tenha
sido o esvaziamento
do Ministério do Meio Ambiente. Por que a diferença?
Não são poucos os analistas que apontam falhas de articulação política no governo. O presidente da Câmara, Arthur Lira, não sem uma ponta de cinismo, sugeriu substituir o ministro da Casa Civil, Rui Costa, por Fernando Haddad, da Fazenda. Para Lira, Haddad, ao contrário de Costa, "conversa, negocia texto e é franco nas conversas".
Longe de mim negar a importância do diálogo
na política. Acrescento ainda que considero Haddad um dos melhores quadros do
PT. Mas, mesmo assim, penso que o diagnóstico de Lira fetichiza para além da
conta a articulação
política. Uma explicação mais plausível para a diferença de desempenho é
que a massa de parlamentares de centro-direita comandada por Lira é
ideologicamente favorável às medidas econômicas propostas pelo governo e se
opõe à pauta ambiental.
Há, contudo, um ponto na trajetória de
Haddad que vale a pena discutir. Ele assumiu a Fazenda sob forte desconfiança
do mercado e rapidamente se tornou o queridinho dos "faria-limers".
Algo não muito diferente ocorreu com Palocci duas décadas atrás. Minha hipótese
é que a cadeira faz o homem, isto é, o cargo que um indivíduo ocupa acaba
determinando suas posições.
Essa era uma ideia quase consensual alguns
anos atrás. Não foram poucas as figuras medíocres que acabaram ficando maiores
por estar no posto certo na hora certa. Pense num Itamar Franco na Presidência
do Brasil ou num Rudolph
Giuliani na Prefeitura de Nova York no 11 de Setembro. Mas o recente
advento de líderes populistas nos últimos tempos mudou um pouco o jogo. Eles
ganham eleições com uma retórica extremista e, uma vez no poder, tentam pôr
essas ideias em prática.
Sei.
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