Folha de S. Paulo
Embora política exija pragmatismo, é
preciso que existam pequenos partidos mais ideológicos
Diz o chiste que, onde houver três militantes de esquerda, haverá quatro tendências a separá-los. Dizem os jornais que o PSOL rachou. A corrente mais à esquerda, que tem como figura mais conhecida o ex-deputado federal Babá, decidiu deixar o partido. Segundo o grupo, o PSOL traiu seus ideais ao aliar-se ao governo Lula, que conta "com representantes dos banqueiros, agronegócio, multinacionais e setores da extrema direita".
Babá está certo. Não me considero um extremista, mas acho
importante que o Congresso tenha em seus quadros parlamentares de um PSOL raiz —embora trema só de pensar no que aconteceria
se suas ideias, em especial as econômicas, fossem implantadas— e de seu
antípoda à direita, o Novo. Representantes de partidos mais ideológicos, desde que
não se tornem majoritários, dão bons parlamentares. Eles tendem a trabalhar
bastante e operam ao mesmo tempo como fiscais de políticos mais afeitos ao toma
lá dá cá e como antídoto contra o conformismo. Podem ser descritos como uma
combinação de consciência crítica com sonhadores utópicos.
Embora a política seja a arte de fabricar
consensos, é fundamental que existam, no Parlamento e na opinião pública,
contrapontos ao pragmatismo. É aí que entram as utopias. Elas são necessárias
porque nos fazem pensar para além do imediato. Por definição (etimologicamente,
utopia significa "o que não tem lugar"), jamais serão implantadas,
mas, ao enunciá-las e eventualmente buscá-las, já estamos nos posicionando e de
algum modo jogando um jogo que, no contexto das democracias, tende a
aperfeiçoar o sistema político.
O PSOL surgiu em 2005. Foi fundado por
deputados que foram expulsos do PT por não concordar com as concessões que Lula
fazia para tocar seu governo. Eles saíram denunciando as falhas éticas e o
stalinismo da legenda. Se o PSOL não puder ser um partido que faça a crítica ao
PT pela esquerda, ele perde sua razão de ser.
Verdade.
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