Folha de S. Paulo
Narrativa é uma história que cada um conta
como quer e cuja veracidade depende de quem a escuta
Entre as várias besteiras que tem cometido em vez de dedicar-se a reconstruir o país, Lula embarafustou-se por uma mixórdia verbal na segunda-feira (29) ao receber em palácio um convidado que entrou em surdina, quase que pelos fundos e sem limpar os pés: o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Lula chamou de "narrativa" as acusações que pesam sobre Maduro e sua maneira de tratar os opositores —com prisões, sequestros, desaparecimentos, afogamentos, tortura, estupros e execuções, tudo isso possibilitado por asfixia da imprensa, degola do Poder Legislativo, pesada corrupção de militares e eleições de araque.
Esse é o violento diagnóstico contra Maduro
pela Anistia Internacional, a Human Rights Watch, a Organização das Nações Unidas
e o Tribunal Penal Internacional de Haia, entidades a que apelamos contra
Bolsonaro por incitação a golpe de Estado, charlatanismo na pandemia e
genocídio dos povos indígenas. Não por acaso, Bolsonaro também chamou a isso de
"narrativa".
Narrativa, como se vê, é uma história cuja
veracidade depende de quem a conta —ou de quem a escuta. Lula instou Maduro a
"construir sua narrativa, para que possa efetivamente fazer as pessoas
mudarem de opinião". Jurando por essa narrativa antes mesmo de ouvi-la,
carimbou: "A sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a que eles
têm contra você". O amor é lindo, não?
E então vem a mixórdia verbal: "Está
nas suas mãos construir a sua narrativa e virar esse jogo, para a Venezuela
voltar a ser um país soberano, onde somente seu povo, por meio de votação
livre, diga quem vai governar o país".
Pois não é exatamente o que o mundo espera
da Venezuela? Que volte a ser um país soberano, onde somente o povo, através de
eleições livres, sem as mentiras, as gambiarras econômicas e o uso da máquina
do Estado praticados por Bolsonaro, digo Maduro, escolha quem irá governá-lo.
Uma vergonha!
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