Folha de S. Paulo
Contra quase todas as previsões, economia
deve ter crescido de modo decente no primeiro semestre
Nesta quinta-feira (1º) vamos saber quanto
cresceu a economia brasileira no já algo distante primeiro trimestre.
Entre a turma que costuma fazer previsões mais certeiras ou menos erradas,
diz-se que o PIB teria
crescido algo em torno de 1,4%, um ritmo imprevisto no final do ano passado e
bastante bom, dada a realidade do país na última década, entre ruína e
mediocridade.
Pelos indicadores disponíveis mais recentes e, claro, parciais, é provável que a economia venha a crescer algo em torno de 0,4% no segundo trimestre. Isto é, considerado um ano terminado em junho, o PIB teria crescido uns 2,5% (o resultado do ano de 2022 fechado foi também surpreendente, 2,9%).
Não quer dizer, necessariamente, que o
patamar de ritmo de crescimento normal do país tenha mudado do 1,4% anual de
2017-2019 para a casa dos 2,5% ou por aí. Mas, até aqui, a economia resistiu a
incertezas, riscos aumentados e a uma taxa básica de juros de
13,75% ao ano.
Parte desse PIB mais gordo pode ter sido
alimentado por fatores passageiros, como açúcar na veia. Por exemplo, as
transferências do governo aumentaram, como no caso do Bolsa Família muito
maior (até o final do ano, R$ 130 bilhões maior do que em 2022), além do
reajuste de outros benefícios que variam com o salário mínimo.
Há algo mais, ainda no curto prazo. Como
observa Fernando Honorato Barbosa, chefe do Departamento de Pesquisas e Estudos
Econômicos do Bradesco, a desinflação, em particular de alimentos, deve ter
aumentado o poder de compra dos rendimentos mais baixos, que vão todos para
consumo. Não para por aí.
Nesta quarta-feira (30), saíram os dados
de emprego e rendimento do IBGE sobre abril. Os números dos salário médio
vieram ainda fortes e, de leve, indicam uma pausa na desaceleração que vinha
desde dezembro (pelos dados dessazonalizados e pela comparação com o mesmo mês
do ano anterior). Mesmo crescendo em ritmo menor, a massa salarial (soma de
todos os salários) ainda aumentava a 9,6% ao ano, apesar do número de pessoas
ocupadas estar quase estagnado neste ano.
Outros fatores circunstanciais ajudam, como
o excelente desempenho da agricultura e preço de commodities ainda
alto. Até mesmo o crédito bancário, afetado por calotes, juros altos e
endividamento maior, tem um pouso relativamente suave.
O crédito livre para pessoas jurídicas cai,
trimestralmente, desde novembro de 2022 (em termos reais; descontada a
inflação). No caso das pessoas físicas, depois de uma claudicada nos meses da
virada do ano, o crédito continua no azul, crescendo um tico, como indicam os
dados do Banco Central sobre abril.
É possível também que tenha havido alguma
mudança dita mais estrutural na economia brasileira, embora não deva ser grande
coisa e seja assunto para outro dia.
Quanto ao resultado do PIB a ser divulgado
nesta quinta-feira, interessa muito saber o que foi feito do investimento (em
novas instalações produtivas, residências, máquinas, equipamentos, softwares).
Talvez daí tenhamos uma pista sobre o que se passa nesta economia que ainda
cresce, à sua moda medíocre, com Selic nas
alturas e inflação em queda ligeira (mas alta, no caso de serviços). Pode ser
que saibamos que o país está apenas queimando gorduras e anabolizantes
transitórios (poupança de famílias mais ricas, grande gasto público adicional,
por exemplo).
No ano de 2024, sem gorduras novas, ainda
sob efeito da Selic terrível de 13,75% e ainda sem expectativas muito
melhoradas sobre dívida do governo e reformas, vai ser mais difícil de segurar
o PIB. Mas ainda dá para arrumar um pouco da casa. Ajuda se pararem de falar
besteira em Brasília.
Pois é.
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