quinta-feira, 8 de junho de 2023

Vinicius Torres Freire - Boas notícias sobre inflação

Folha de S. Paulo

Matérias primas e dólar limitam carestia; se governo ajudar, Selic pode cair rápido

inflação estava em 11,7% ao ano em maio de 2022. Baixou a 3,9% em maio de 2023. "Ao ano": a inflação acumulada em doze meses. Há um pouco de ilusão neste número baixo. Mas há indícios de que o IPCA possa cair mais e meios para fazer com que a inflação e expectativas diminuam, com ajuda do governo em especial.

Assim, sairiam do radar os motivos pelos quais o Banco Central mantém a taxa a Selic, em 13,75%.

Não deve haver corte na reunião do BC de junho. Se a redução da Selic virá em 2 de agosto ou em 20 de setembro não é lá relevante para o andamento da economia, nem no curto prazo. É melhor cortar devagar, 0,25 ponto percentual a partir de agosto, ou partir para um confiante e regular talho de pelo menos 0,5 ponto, a partir de setembro?

É melhor criar condições para um corte rápido. Nas estimativas compiladas pelo BC, economistas do setor privado ainda preveem Selic a horríveis 10% no final de 2024; os mais otimistas da praça preveem 9%.

Antes de mais nada, repita-se que a inflação de 3,9% ao ano até maio é um pouco ilusória. A conta do IPCA nesses 12 meses inclui uma desinflação artificial, a baixa de 1,3% de julho a setembro de 2022, a redução eleitoreira do preço dos combustíveis pelo governo das trevas. Sendo otimista, o IPCA acaba este ano em torno de 5%.

Além disso, os preços livres ainda sobem 5,7% em 12 meses. É aquela medida de inflação que desconsidera a variação de preços de algum modo influenciados por governos: água, luz, combustíveis, transporte público, pedágio, plano de saúde etc. A inflação de serviços foi de 6,5% e cai devagar.

Mas há boas notícias. A inflação no atacado vem despencando. Nos 12 meses até maio, o Índice de Preços de Atacado (IPA, medido pela FGV) baixava 8,9%, em parte considerável graças a minério de ferro, diesel, milho, soja e boi.

O preço do dólar anda se comportando na casa de R$ 4,9. O PIB cresce mais do que o previsto, mas, pelo bem ou pelo mal, não de modo a pressionar mais a inflação (o consumo das famílias anda devagar, quase parando, e o investimento produtivo caiu).

As expectativas de inflação para os próximos 12 meses baixam desde abril, embora em ainda 4,7%. Para 13 a 24 meses adiante, caem desde meados de maio, embora em ainda 4,1%. Porém, os números começam a surpreender para baixo. As expectativas de "o mercado" devem cair também.

Despiorou a percepção do que Lula 3 vai fazer de suas contas e déficits. É possível que o governo arrecade mais do que se previa; é possível obter déficit menor. Não será grande coisa a pesar em expectativas em geral, mas é alguma coisa —a favor. Caso o governo dê fim a essa conversa de revisar a meta de inflação do BC, vai ganhar uns pontos nas expectativas de inflação (vão baixar).

No mercado onde se definem os custos de financiamento de déficit e dívidas do governo, as taxas de juros caíram bem. A taxa futura de um ano fora a 14,6% em novembro de 2022, pois Lula subia em palanque para desancar o controle de gasto público (no final da eleição, a taxa estava em 13,2%). Foi o maior tiro no pé que o presidente deu desde eleito. Agora, a taxa de um ano desceu a 12,2%, em parte graças ao arcabouço fiscal, e está abaixo do nível do "Lula Day" para todos os prazos.

No entanto, como as expectativas de inflação também baixaram, a taxa real de juros subiu um tanto (taxa futura de um ano descontada a expectativa de inflação para 12 meses). Rondava os 7% em abril, está em 7,3%. Um pequeno aperto monetário extra aí.

Há motivos que fundamentam essa baixa da inflação; há meios de o governo criar condições adicionais para um corte rápido da Selic. Daí, a responsabilidade fica com o BC.

 

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