quinta-feira, 8 de junho de 2023

Bruno Boghossian - Contrafilé na mesa

Folha de S. Paulo

Alívio nos preços e outros fatores oferecem oportunidade política ao presidente

Lula se preparou para um primeiro ano de sufoco na economia. Antes de subir a rampa, o petista correu atrás de oxigênio extra e negociou uma turbinada dos gastos do governo. Na mesma época, abriu uma guerra com o Banco Central para tentar driblar o aperto dos juros.

A largada do mandato foi de apreensão no Planalto e na Fazenda. O receio era que a frustração com a economia contrariasse um eleitorado que ouviu promessas de uma recuperação quase instantânea. Agora, o clima nesses gabinetes mudou.

A equipe de Lula não espera uma bonança milagrosa, mas acredita que vai atravessar 2023 com um respiro. Um alívio nos preços, a aposta no corte dos juros, o efeito das despesas sociais e uma boa dose de sorte podem permitir ao petista terminar o ano com bons dividendos políticos.

Uma fatia do otimismo se deve a fatores externos. A alta da produção de alimentos e uma demanda internacional menor seguraram preços de produtos que afetam o bem-estar do eleitor. Os combustíveis e o dólar sob controle completam o pacote da inflação em queda e tornam um corte de juros inevitável.

O atoleiro ainda é feio porque a produção e o emprego patinam, mas algumas boias de salvação do governo (Bolsa Família, Desenrola, salário mínimo) podem oferecer uma sobrevivência um pouco menos penosa para os mais pobres, em particular.

Lula não vai desperdiçar a chance de deixar sua marca. Deve atrelar o possível conforto do eleitor aos programas do governo e bater bumbo para uma queda dos juros (ainda que não tenha de fato dobrado o BC).

O cenário está na conta de investidores que, aos poucos, amenizam o discurso de que Lula 3 produzirá desgraças do início ao fim. O próximo reflexo pode aparecer no mundo político, que costuma se abrir para governantes em dias de sol.

A previsão melhorou para a primeira metade do mandato, mas os anos seguintes dependem de um aumento de investimentos e alguma reforma. O contrafilé parece garantido, mas Lula precisa ir atrás da picanha.

 

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