Folha de S. Paulo
Jornalistas não seriam bem-vindos ao
cruzeiro no mar do Caribe
Em 1960, Jânio Quadros atravessou
o Atlântico a bordo do Aragon, navio da Mala Real Inglesa com destino a
Londres. Era segredo, mas o furão Joel Silveira conseguiu
embarcar também e relatou o que viu no livro "Viagem com o Presidente
Eleito", que reli agora pensando na falta que fez um repórter de olho
em Arthur Lira durante
o cruzeiro de
Wesley Safadão nas águas do Caribe.
Joel mostra um Jânio diferente daquele que encantou 5,6 milhões de eleitores trajando paletó escuro pontilhado de caspa (ou seria talco?), colarinho e gravata soltos, amarfanhado e despenteado, óculos pesados escorregando até a ponta do nariz.
Eleito, a camuflagem populista desapareceu.
O político era outro: cheirando a lavanda, os fios de cabelo nos devidos
lugares, o bigode aparado, vestindo um terno de casimira, a gravata impecável,
a camisa engomada, as abotoaduras de prata, enquanto consumia generosas doses
de uísque contrabalançadas com goles de cerveja Guinness e, apesar da presença
de dona Eloá, escancaradamente dava em cima de uma viajante açoriana:
"Atrás de ti, perto do bar, já percebeste aquela senhora de boas
carnes?". Jânio dizia "senhôra", não senhora.
Como se comportou o reizinho Arthur a bordo
do navio MSC Seaside, com piscinas, spas, pistas de dança, restaurantes e bares
exclusivos, cabines de luxo com lençóis egípcios e mordomo em tempo integral? O
presidente da Câmara pagou tudo do próprio bolso (o pacote vip não sai por
menos de R$ 40 mil) ou foi convidado? Cantou "Camarote" ("Agora
assista aí de camarote /Eu bebendo gela, tomando Ciroc / Curtindo na balada, só
dando virote"), sucesso do Safadão?
Pensando bem, foi melhor que jornalistas
não tenham acompanhado o cruzeiro, pois corriam o risco de serem jogados ao mar
dos tubarões. Lira lidera hoje uma escalada anti-imprensa, movendo ações
judiciais em que pede a proibição e a censura de reportagens sobre ele.
Desconheço o repertório de Safadão,eu juro!
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