Folha de S. Paulo
Seria mais que saudável dedicar tolerância
zero para comportamento reincidente de Bolsonaro
O
julgamento no TSE nem tinha terminado, mas Jair
Bolsonaro já era reincidente. Numa entrevista improvisada, o
ex-presidente voltou a alimentar suspeitas falsas sobre as urnas e repetiu a
enganação de que os ataques de 8 de janeiro foram "uma grande
armação". Quando ele começou a fazer campanha contra vacinas, a CNN cortou
a transmissão.
Horas depois, naquela mesma sexta-feira (30), Bolsonaro foi mais longe. Em outra entrevista, reciclou teorias da conspiração sobre as investigações da facada que sofreu e sobre as eleições de 2018. Para completar, insinuou que teve mais apoio do que Lula em 2022, mas "os números do TSE apontaram outra direção".
Bolsonaro continuará sendo o mesmo ator
político que foi condenado por ataques à democracia. A proibição de disputar
eleições não exclui o ex-presidente da vida pública, e ele vai apertar todos os
botões que tiver à sua disposição para manter influência sobre sua base.
A punição do TSE deveria fazer com que
políticos, eleitores e a imprensa tratassem esse personagem de maneira
diferente. Na cadeira de presidente ou no papel de candidato, Bolsonaro atraía
holofotes pelo poder que tinha em mãos, pela perspectiva de obtê-lo ou pelo
potencial inflamável de suas declarações.
Agora, ele não pode ser ignorado, mas seria
mais do que saudável aplicar uma política de tolerância zero para suas
continuadas insinuações antidemocráticas e outros disparates, calibrar seu
espaço no debate público e medir com cautela o título de "cabo eleitoral
de luxo" que o ex-presidente concedeu a si mesmo.
Por enquanto, candidatos que se vendem como
moderados continuam correndo
atrás do apoio de Bolsonaro, grupos políticos usam sua voz para marcar
posição em temas para os quais ele nunca deu bola (como
a reforma tributária), e boa parte de seu show de desinformação circula sem
a devida contestação.
Bolsonaro foi punido por uma violação grave
das regras da democracia. Tratá-lo como um político qualquer não deveria ser
uma opção.
Apoiado.
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