Folha de S. Paulo
'Vai não vai' de ministros oscila entre o
dramalhão mexicano e a comédia pastelão
Quando
foram revelados os laços do grupo de Daniela
Carneiro com milicianos, o governo segurou a ministra na cadeira. Eram
os primeiros dias de mandato, e Lula não queria testar tão cedo os humores de
sua base.
Ficava claro que o controle do Ministério
do Turismo era uma questão de pragmatismo bruto. Alguns lances da política são
assim, mas poderiam dispensar o espetáculo de humilhação coletiva encenado
depois.
Ninguém sai ileso da caótica troca de guarda na pasta. Lula ficou com o prejuízo de ter entregado o ministério a um grupo com força política limitada a Belford Roxo. A barbeiragem ainda deu ao centrão a oportunidade de exercitar sua vocação chantagista e obrigou o petista a admitir que, hoje, é o lado fraco da relação.
Lula até conseguiu puxar para a lama os
políticos que patrocinam o nome do bolsonarista (existe ex-bolsonarista?) Celso
Sabino para o ministério. O presidente pendurou a pressão do centrão,
adiou a substituição sucessivas vezes e forçou o grupo a aceitar cada nota
promissória.
O "vai não vai" oscilou entre o
dramalhão mexicano e a comédia pastelão. Num dos vários encontros em que a
demissão foi selada, o
presidente e Daniela caíram no choro —e ela continuou no cargo.
A bufonaria ficou por conta de operadores
de Lula. Após outra reunião, na quinta (6), o ministro Paulo Pimenta disse
que Daniela
continuava no cargo. O centrão estrilou e ameaçou a reforma tributária.
Foram necessários outros dois comunicados para confirmar a troca.
O processo ainda submeteu Daniela ao vexame
de vagar como ministra-fantasma por quase três meses. Ela circulou em eventos
públicos como demissionária, antecipou balanços sobre a breve passagem pelo
posto e chegou a receber gestos de solidariedade pela queda iminente.
Nos capítulos finais da novela, o governo
prometeu construir um hospital em Belford Roxo como prêmio de consolação para
Daniela e disse que analisaria o apetite do centrão por outros cargos e pastas
graúdas. O Ministério do Turismo virou trocado.
Coitada.
ResponderExcluir