Folha de S. Paulo
Proposta tem discrição de Lula, ação de
Haddad, domínio de Lira e sinais de instabilidade na oposição
Lula falou
pouco da reforma
tributária desde que voltou ao Palácio do Planalto. Em discursos e
entrevistas, o presidente se referiu à proposta em termos genéricos e comentou
a importância do projeto sem discutir detalhes. Celebrou as perspectivas de
aprovação do texto, mas evitou tomar a bandeira em suas mãos.
Não é que o governo não tenha interesse no
tema. Lula queria uma reforma com impacto redistributivo, mas a simplificação
debatida no Congresso já foi considerada um passo largo. A Fazenda criou uma
secretaria especial para cuidar do assunto, e Fernando Haddad se envolveu
diretamente na negociação.
O avanço da proposta resume um processo de adaptação do governo e de outros atores aos arranjos políticos que marcam os seis meses iniciais de Lula. O presidente examinou os limites de sua atuação, o centrão trabalhou para maximizar seus ganhos, e a oposição exibiu sinais de uma fase de instabilidade.
A tentativa de aprovar a reforma vem sendo
tratada em Brasília como mais uma operação dominada pelo Congresso
—especificamente por Arthur Lira. A ausência de Lula do debate público foi
vendida como uma ação tática para reduzir riscos de contaminação das discussões
e permitir que o presidente da Câmara construísse sua maioria no plenário.
O governo tinha pressa para aprovar outros
itens da pauta econômica, mas teve de topar o cronograma de Lira, que
elegeu a reforma tributária como uma espécie de selo
de qualidade para sua gestão. Para melhorar as chances de aprovar o pacote
completo, o
Planalto liberou uma carga generosa de emendas, abastecendo grupos próximos
ao presidente da Câmara.
O caminho da proposta, seja qual for seu
desfecho, expõe ainda uma colisão precoce entre Jair Bolsonaro e Tarcísio de
Freitas. O ex-presidente declarou
oposição inegociável e tentou carimbar o projeto como uma
"reforma tributária do PT". O governador deixou o antigo chefe
falando sozinho e se
reuniu com Haddad para combinar ajustes no texto.
Bolsonaro não apita mais em nada,que fique bem claro.
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