Folha de S. Paulo
Para achar mandantes, investigação terá que
ir fundo numa estrutura embrenhada em regiões inteiras do Rio
A etapa mais recente da investigação das
mortes de Marielle
Franco e Anderson Gomes ajudou a completar o desenho da cena do
crime, mas não foi só isso. A delação que detalhou a execução dos assassinatos
também ofereceu uma visita ao submundo em que será preciso mergulhar para
encerrar o caso.
O ex-PM Élcio Queiroz narrou com naturalidade a conexão entre os responsáveis pelos assassinatos e as atividades de milícias do Rio. Descontado o espírito de propaganda, foi isso que levou o ministro Flávio Dino a dizer que "é indiscutível" o vínculo entre esses grupos e as mortes.
Acusado de fazer os disparos, Ronnie Lessa
aparece na delação como miliciano modelo. Também ex-policial, ele ganharia
dinheiro com a exploração de máquinas caça-níqueis e de serviços ilegais de TV
a cabo e internet. No chamado "gatonet", seria sócio do ex-bombeiro
Suel, preso na
segunda-feira (24) por suspeita de participação nas mortes.
O ex-policial preenche outro item do
perfil: a disputa por terras na zona oeste do Rio. Segundo o delator, Lessa ajudou
Suel a bloquear a ameaça de policiais de Rio das Pedras (foco da atuação de
milícias) que queriam tomar dele "um terreno enorme".
Os relatos de Élcio sugerem ainda que Lessa
usava uma rede de policiais e ex-policiais para suas atividades. Um dos casos
seria a origem da arma do crime, desviada no incêndio de um paiol do Bope.
Outro seria o vazamento da operação em que os dois foram presos, em 2019.
Élcio contou que o assassinato
teria sido encomendado por Edmilson de Oliveira, sargento aposentado
da PM. Conhecido como Macalé, ele já foi identificado como chefe da milícia em
Oswaldo Cruz, na zona norte.
A identificação de Macalé como
intermediário deixou ainda mais nítida a impressão digital das milícias, mas
também expôs um
obstáculo, já que ele foi assassinado em 2021. Para seguir o fio dos
mandantes, os investigadores terão que ir fundo numa estrutura embrenhada na
sociedade, na economia e na política de regiões inteiras do Rio.
PM e CB têm que acabar. MAM
ResponderExcluirSegue o fio...
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