Valor Econômico
Aproximação entre governo e o Centrão já
fez a sua primeira vítima: a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, será
sucedida pelo deputado Celso Sabino
A recente aproximação entre governo e
Centrão criou um dilema para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após seis
meses e meio de mandato, o petista precisa decidir se acelera a entrada do
bloco na base aliada, acolhendo as demandas que lhe foram apresentadas, ou
permanece irredutível na preservação da presença feminina na Esplanada dos
Ministérios.
A situação exige uma reflexão sobre o bônus
de ter mais apoio na Câmara dos Deputados para a agenda legislativa do
Executivo e o potencial ônus de fragilizar uma bandeira cara ao PT, e que neste
caso converge com as melhores práticas de governança. Perseguir o equilíbrio de
gênero, a diversidade e a inclusão no local de trabalho deve ser prioridade de
qualquer empresa. E, claro, do Estado.
Especialistas são unânimes em dizer que uma mistura de habilidades, competências, pontos de vista, experiências e origens tem tudo para melhorar a eficiência - e a eficácia - dos serviços prestados à população.
Ainda durante a campanha, em uma interação
num debate com a então adversária Simone Tebet (MDB), hoje ministra do
Planejamento e Orçamento, Lula esquivou-se do compromisso de colocar metade dos
ministérios sob a liderança de mulheres. Disse ser “plenamente possível”
alcançar tal meta, mas evitou cravar um número.
Eleito, fez uma correção de rota das
práticas adotadas na administração Jair Bolsonaro (PL). Trabalhou para
sancionar a lei de igualdade salarial e critérios remuneratórios entre mulheres
e homens.
Quando subiu a rampa do Palácio do Planalto
no dia 1º de janeiro, levou consigo o simbolismo da diversidade da população,
deixando-se ombrear por representantes do povo. Compôs uma imagem que ficou
para a história das posses presidenciais. E ao adentrar o salão principal do
palácio, sacramentou a nomeação de 11 mulheres para o primeiro escalão -
aproximadamente 30% das 37 pastas. Número recorde na história da República. Em
paralelo, escolheu duas mulheres para as presidências do Banco do Brasil e da
Caixa Econômica Federal.
Mas tudo isso contrasta com a fotografia
tirada na sexta-feira na parte externa do Palácio da Alvorada, após a reunião
na qual encaminhou um acordo para que o Centrão, enfim, passe a fazer parte da
base governista. Dos 20 participantes do encontro de Lula com ministros e
parlamentares, apenas duas mulheres apareceram no retrato. São elas as
deputadas Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Tabata Amaral (PSB-SP).
Do simbólico à vida real, a aproximação
entre governo e o Centrão já fez a sua primeira vítima: a ministra do Turismo,
Daniela Carneiro, será em breve sucedida pelo deputado Celso Sabino (PA), em um
movimento pensado para aplacar as insatisfações da bancada do União Brasil. Ela
está de mudança para o Republicanos, que inclusive pode assumir o Ministério do
Esporte.
Neste caso, a plaquinha de substituição
subiria com o nome de Ana Moser: o deputado Silvio Costa Filho
(Republicanos-PE) é cotado para entrar no jogo em seu lugar. A ministra não tem
respaldo de partido algum, o que a enfraquece no cargo. Porém, fontes ponderam
que a reação nas redes sociais pela sua permanência não deveria ser desprezada
pelo Planalto.
Lula, por outro lado, neutralizou o ataque
especulativo do Centrão contra a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Acabou
tendo que aceitar a recriação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para
abrigar indicações políticas, é verdade, mas preservou a auxiliar.
Outra baixa feminina pode ser a presidente
da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano. Até mesmo parlamentares do PT
reclamam de sua gestão, considerada muito fechada ao meio político. Além disso,
no mês passado, a decisão da Caixa de cobrar taxas no Pix de pessoas jurídicas
inflamou a oposição e irritou o presidente. Para o seu lugar, é citado o nome
do ex-ministro Gilberto Occhi, ligado ao PP.
Nesse contexto, a exceção é o Ministério do
Desenvolvimento Social, comandado por Wellington Dias. Justamente por isso
chamou atenção, dentro do governo, o fato de a primeira-dama, Janja da Silva,
ter se dirigido à sede da pasta na semana passada para fazer um gesto público
em desagravo ao petista, um quadro histórico e maior liderança do partido no
Piauí. Foi às redes sociais e o defendeu. Apenas ele.
Esse, contudo, é apenas um aspecto do
desafio do Brasil para mitigar os desequilíbrios no serviço público. Segundo
dados de maio do próprio governo, apenas 40,9% dos cargos de confiança são
ocupados por mulheres. Desse grupo, 62,04% são mulheres brancas. Depois vêm as
mulheres pardas (29,13%), pretas (6,33%), amarelas (1,95%) e indígenas (0,36%).
Sob a ótica da remuneração, a desigualdade
também é gritante. Entre os servidores ativos que recebem mais de R$ 36 mil por
mês, os homens são 1,11% do total do funcionalismo e as mulheres respondem por
0,48%. Elas também são minoria nas demais faixas. A exceção se dá apenas entre
as pessoas que recebem de R$ 3 mil a R$ 6 mil, a segunda mais baixa do serviço
federal.
A redução das desigualdades na pirâmide do
funcionalismo é uma luta para vários governos. Já o perfil do primeiro escalão
no curto prazo depende somente de Lula.
Mais de 40% de mulheres no serviço público,está de bom tamanho,eu acho.
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