Folha de S. Paulo
Decisão do TSE foi correta porque
ex-presidente é insofismavelmente golpista
Como se esperava, o TSE tornou Jair
Bolsonaro inelegível por oito anos. Foram cinco votos contra dois. O que isso
significa para a democracia?
Considero a decisão da corte eleitoral correta, mas daí não decorre que ela não encerre problemas. O mais grave, creio, é que ela debilita um dos pilares da democracia, que é dar a todos os grupos existentes na sociedade a oportunidade de disputar eleições e eventualmente chegar ao poder. É essa possibilidade que faz com que democracia sirva para evitar a violência política. Pelo menos para os principais atores, é preferível passar um período na oposição e um dia talvez voltar ao comando a agarrar-se ao poder pela força, situação em que correria riscos existenciais em caso de derrota.
Ao privar a direita radical de seu
candidato mais carismático, o TSE se afasta um pouco desse princípio. Mas é bom
frisar o "um pouco". A facção política de Bolsonaro não foi proscrita
nem inviabilizada. Basta encontrar um outro postulante e submetê-lo ao crivo
popular. Se vencer, assumirá, como o próprio Bolsonaro assumiu em 2019.
O que me faz concordar com a decretação de
inelegibilidade é a ideia, nuclear para a vida em sociedade, que malfeitos
precisam ser punidos, sob pena de serem normalizados. E Bolsonaro, perdoem-me
seus advogados, é insofismavelmente golpista. Defendeu o golpe de 64, a
desobediência à Justiça, mentiu sobre as urnas eletrônicas —e poderíamos
prolongar a lista. Se fosse só um indivíduo propalando ideias esdrúxulas, acho
que tolerá-las estaria no preço que se paga pela liberdade de expressão.
Só que Bolsonaro fez mais do que isso. Ele
usou a estrutura da Presidência para atacar a democracia, o que caracteriza um
abuso. Não dá para aceitar que um dos Poderes da democracia se volte contra ela
e que o responsável por esse curto-circuito lógico não sofra nenhuma sanção. A
democracia deve ser tolerante, mas tem a obrigação de defender-se de ataques.
Falou e disse!
ResponderExcluir