Folha de S. Paulo
Indicação de Pochmann para o IBGE segue
lógica política, mas gera ruído sobre credibilidade do órgão
"Diuide et impera", dividir para
conquistar. A ideia de que dá para obter ganhos políticos estimulando o
dissenso, seja entre os inimigos, seja entre aliados, vem sendo utilizada desde
a Antiguidade. A interpretação cínica (ou ultrapragmática) do princípio se
impõe quase automaticamente, mas não é a única possível. Também dá para fazer
uma leitura mais benigna, segundo a qual o bom governante procura cercar-se de
conselheiros de todas as facções para promover o choque de ideias e ter a
oportunidade de escolher as melhores.
Lula se valeu dessa estratégia em sua primeira passagem pelo poder. Pôs na Fazenda o neo-ortodoxo Antonio Palocci e no Planejamento o heterodoxo Guido Mantega. E Lula não estava inovando muito, já que repetia FHC, que colocara o liberal Pedro Malan na Fazenda e o desenvolvimentista José Serra no Planejamento.
Na presente encarnação, o Planejamento foi
para a liberal Simone Tebet. O petista Fernando
Haddad ganhou a Fazenda e se tornou rapidamente um campeão da
Faria Lima. Os heterodoxos ficaram só com o BNDES, com Aloizio
Mercadante. O PT, que deverá perder ministérios para o centrão, deve
ter reclamado, de modo que Lula decidiu
alocar Marcio Pochmann no IBGE.
Foi o que bastou para pôr os círculos
liberais em polvorosa. Pochmann não é um heterodoxo qualquer, mas um
particularmente ideológico (ele se opôs ao Pix por julgá-lo
"neocolonial"), e que teve uma passagem complicada pelo Ipea.
Não tenho nada contra o "diuide et impera" e não acho que seja tão fácil para um presidente do IBGE interferir nas metodologias do instituto, mas creio que Lula errou nessa indicação. O IBGE não é um posto político ordinário. É um órgão de Estado com a incumbência de produzir vários números oficiais, que são tão bons quanto sua reputação de confiabilidade. Pôr à frente do IBGE uma figura que gera ruído sobre a qualidade dos dados deveria ser carta fora do baralho.
Em uma sociedade que guarda respeito com a natureza humana, primeiro as relações sociais determinam a economia e, na sequência, a economia, por causa da sociedade, determina a própria sociedade. Assim, essa sociedade é a causa de si mesma e isto é expressado fundamentalmente por meio da economia, vale dizer, por meio das relações sociais.
ResponderExcluirA economia são as relações sociais estabelecidas na sociedade.
Em uma sociedade livre as relações sociais que emergem incorporam a natureza do ser humano, como nem poderia ser diferente, e incorporam e têm a natureza da cultura humana evoluida em condições de liberdade. Se a sociedade não conta com a liberdade necessária, as relações sociais são determinadas pelo uso econômico escolhido e aplicado para essa sociedade por seus membros dirigentes autoimpostos, expressando esta sociedade as relações sociais idealizadas pelo grupo particular que a dirige.
A gestão do Estado é a gestão destas relações sociais. Nenhum país faz políticas sérias sem estudos sérios da natureza geográfica das relações que as estatísticas dos estudos sociais expressam.
Quem acessa a realidade das relações estabelecidas em um país é o seu instituto de geografia e estatística por meio de seus estudos e pesquisas e isto pode ter dois usos diferentes:
i) Conhecer o que uma sociedade está expressando para planejar e encaminhar as soluções que esta sociedade naturalmente demanda:: este é o Estado que surgiu com o Modo de Produção Capitalista e sua ideologia liberal. A Dinamarca, a Bélgica, a Suécia, a Nova Zelândia, a Finlândia e alguns mais são a expressão mais evoluída deste uso do conhecimento da geografia social ou ;
ii) Direcionar as pesquisas e dar interpretação narrativa para os estudos da geografia humana de uma sociedade, de modo a planejar para esta sociedade soluções artificiais idealizadas por um grupo particular e que sejam correspondentes aos desejos e preferências deste grupo para o funcionamento desta sociedade. A Rússia da época da União Soviética e seus paises membros, Cuba, a atual Venezuela, a Coréia do Norte e alguns mais são a expressão mais evoluida deste modelo.
No Brasil, o órgão responsável para acessar a realidade que desvela os estudos estatísticos da geografia humana é o IBGE. Ter um IBGE confiável para a sociedade é fundamental para o que queremos fazer deste país:: podemos ter como referência a Dinamarca, a Suécia, a Bélgica, o Canadá, a Alemanha, a Finlândia, ou podemos aceitar que nos imponham como referência a China, a Coréia do Norte, Cuba ou Venezuela.
Simone não ligou com a indicação.
ResponderExcluir