Folha de S. Paulo
Capacidade de distinguir histórias
inventadas de fatos é natural entre humanos, mas incentivos sociais podem gerar
adesão a mitos
O Conar instaurou um processo para determinar se a
propaganda da Volkswagen com Elis Regina viola as regras éticas da organização.
Uma das muitas acusações contra a peça é que ela, ao trazer a cantora "de
volta à vida", contribuiria para causar confusão entre ficção e realidade.
Mas será que humanos somos assim tão propensos a confundir ficção com
realidade?
A resposta direta à pergunta é "não". Se há algo que nossa espécie sabe fazer é distinguir histórias inventadas de fatos. E sabemos fazê-lo pela simples razão de que somos consumidores ávidos de ficção.
Contar histórias em torno de fogueiras é um universal
humano. Não há tribo que não se dê a essa prática e não mantenha seu acervo de
lendas. Elas servem tanto para reforçar a coesão do grupo como para nos
adestrar em como lidar com desafios do mundo real. Histórias de terror, por
exemplo, nos ensinam a enfrentar nossos medos. E essas funções só se efetivam
se soubermos separar o que é ficção do que não é.
Outra evidência de que a distinção nos é
natural está no fato de que as crianças não precisam de mais do que alguns anos
para descobrir que Papai Noel não existe, embora os adultos lhes mintam o tempo
todo.
Essa decupagem entre fato e ficção é hoje
considerada um argumento em favor do valor adaptativo da arte.
Mas, se somos tão bons em separar o real do
inventado, como explicar que existam terraplanistas, antivaxxers e vários outros
grupos que creem em ideias sem lastro fático? O problema aí não é que lhes
falte o instrumental para fazer a decupagem, mas sim que existem incentivos
sociais para que proclamem acreditar em ficções. Com efeito, essas pessoas não
alcançam essa condição por causa de algum déficit cognitivo, mas porque se
enredaram em circuitos sociais em que ganham pontos diante de seus pares se dão
sinais críveis de que aderem às bandeiras do grupo. Nada que não vejamos todos
os dias em igrejas.
Acho que no final do último parágrafo o colunista poderia acrescentar exemplos.
ResponderExcluir😏
■Copiei do autor:: "Nada que não vejamos todos os dias em igrejas." e acrescento:: e que também não se veja em partidos políticos doutrinadores.
ExcluirVerdade.
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