Valor Econômico
Ministra do Planejamento perdeu duas
oportunidades para fazer o presidente do IBGE
A ministra Simone Tebet é sócia dos bons
resultados da economia deste governo, mas tardou a perceber como estes,
paradoxalmente, lhe estreitaram os caminhos. A aceitação, pelo mercado, de uma
política econômica que começa a dar resultados foi o trampolim para Marcio
Pochmann no IBGE. Um semestre se passou até que o governo se desse ao luxo de
esnobar as restrições da ministra a um nome como o de Pochmann. Houve duas
oportunidades para Simone Tebet evitá-lo, mas nenhuma delas foi aproveitada.
A primeira foi na posse. Sua nomeação para Planejamento simbolizava a cota de respeito a um resultado eleitoral apertado num ministério mais petista do que o eleitorado chancelara. Mas a Pasta estava aquém de suas pretensões de comandar uma área social do governo, foco das melhores propostas de sua campanha presidencial. Por isso, pareceria natural que a ministra tivesse garantida, no mínimo, a nomeação da principal autarquia sob seu comando.
Não teve. A avidez do PT por ocupar o cargo
a fez recuar. A ministra reagiu com elegância à perda de atribuições do
Planejamento e tratou de manter um bom relacionamento com o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, com quem nunca desafinou em público - nem em privado.
Um segundo momento para emplacar um nome
foi a divulgação do Censo, um mês atrás. Ao divulgá-lo, a ministra associou-se
ao trabalho heroico de coleta e processamento de dados em meio ao corte de
verbas da era bolsonarista. A nomeação para a presidência do órgão seria o
coroamento do resgate do Censo, mas não aconteceu, pelo que explica a ministra,
porque estaria subentendido que o presidente da República tinha uma nome para a
vaga.
Como não existe vácuo, o PT avançou para
ocupá-lo. À medida em que Haddad passou a ser não apenas aceito pelo mercado,
mas por ele ungido, o espaço ocupado por Simone Tebet na equipe econômica se
estreitou. O atributo da moderação, que sempre a caracterizou, passou a ser
identificado ao capitão da equipe econômica a ponto de a ministra ter ensaiado
um papel de crítica mais contumaz da política monetária do que o próprio
Haddad, papel no qual nem sempre foi convincente.
O vazamento, pela imprensa, quando a
nomeação de Marcio Pochmann já parecia inevitável, foi o coroamento dos
equívocos. Deixou exposta uma derradeira tentativa de impedir o inevitável.
Houve quem visse pinçadas de deslealdade no gesto, em nada comparável à deselegância
do ministro da Comunicação e do presidente da República com a tratorada do
anúncio de Pochmann. Caberia à ministra aceitar ou ir embora. Ela aceitou.
Faltou pluralidade ao futuro presidente do
IBGE na gestão do Ipea e a dificuldade de conviver com o contraditório pode vir
a ser muito danosa na gestão de um instituto de pesquisa. Nada disso autoriza a
pecha de terraplanista que se tenta imputar em Marcio Pochmann. A aproximação
trilhada pelo economista com a gestão de Haddad mostra que ele costurou
politicamente sua nomeação. O que impressiona é que a ministra, muito mais
hábil politicamente, não tenha trabalhado por um contraponto.
Superada a desfeita, Simone Tebet fica não
apenas porque seu ingresso no governo Lula dificultou seu retorno à política do
Centro-Oeste mas porque a oposição hoje é uma abstração. Por outro lado, a
ministra permanece como um dos melhores ativos do governo para o diálogo com a
banda mais próspera da economia nacional.
Seu valor de face continua atrelado à
sobrevivência do bolsonarismo e à necessidade de este governo cruzar a ponte
para dialogar com setores recalcitrantes. Neste papel, a ministra, assim como o
vice-presidente Geraldo Alckmin, têm sido subutilizados.
Se sua relação com Lula tem sido marcada pela ausência de pedidos do presidente, como fez questão de dizer, talvez não precise esperar que Lula lhe peça para assumir este papel. Pode até ajudar no momento em que o governo tropeçar neste salto em que tão cedo subiu.
O relacionamento dos dois é ótimo,ela já disse.
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