O Globo
Simone Tebet, representante do suposto
projeto de governo de centro democrático, acaba de receber um torpedo pela proa
com o anúncio de que o economista Marcio Pochmann será o novo presidente do
IBGE
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
está se saindo um político melhor do que a encomenda. Dividir a melhoria da
avaliação da economia brasileira pela agência Fitch com os presidentes da
Câmara e do Senado, pelo apoio às reformas, além de justo, é um gesto de quem
tem o entendimento do real sentido da proposta de governo de centro democrático
escolhido pelas urnas.
Da mesma maneira, ao repetir várias vezes
que o presidente Lula é o candidato do PT para a reeleição em 2026, o ministro
da Fazenda procura afastar as intrigas internas que o apontam como o presumível
candidato petista caso Lula não queira ou não possa disputar a reeleição. Nada
mais natural que o nome de Haddad surja na lista de possíveis candidatos, já
que ele disputou o cargo em 2018 e hoje é o quadro do PT mais em evidência com
o sucesso inicial da política econômica.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, representante desse suposto projeto de governo de centro democrático, acaba de receber, porém, um torpedo pela proa com o anúncio de que o economista Marcio Pochmann será o novo presidente do IBGE. Uma briga interna silenciosa contra Haddad, o verdadeiro alvo desse torpedo, acabou encontrando uma brecha na equipe econômica por uma ingenuidade política de Tebet.
O cargo no IBGE, um dos mais estratégicos
da estrutura governamental, estava vago desde a posse. Como em política não há
vácuo, o grupo heterodoxo de Campinas assumiu esse espaço. Não se pode garantir
a unidade da equipe econômica a partir de uma nomeação dessas, à revelia da
ministra. Como Tebet é um símbolo de um suposto governo de unidade nacional,
obrigá-la a aceitar Pochmann no IBGE não é bom sinal.
Para ter uma ideia de como a presença de um
economista de visão diversa da que prevalece na equipe econômica pode criar
dificuldades, basta saber que ele publicou um tuíte contra o Pix, criticando-o
como instrumento para “fortalecer o curso do processo neocolonial”. Pochmann
“acusa” o Pix de reduzir “o tempo de circulação do dinheiro”, ajudando a
“movimentação bancária”.
O fato é que temos no momento um governo
reformista de esquerda e um comando do Congresso reformista de direita, e essa
conjunção está dando certo. A agência reguladora Fitch, ao aumentar a
classificação do Brasil, citou as diversas reformas que estão sendo
implementadas em governos recentes, citando a da Previdência, que começou no
governo Temer e foi aprovada no governo Bolsonaro, a tributária e o arcabouço
fiscal agora no governo Lula. Os economistas da agência chegam a explicitar um
espanto saudável com as medidas reformistas que estão sendo tomadas num governo
de esquerda que, admitem, temiam que não continuasse com elas.
Uma das medidas aprovadas no governo
Bolsonaro elogiada pela Fitch é justamente o Banco Central independente, que
Lula tanto combate. A existência dessa autonomia dá a garantia de que as
medidas necessárias ao controle da inflação serão tomadas com base em análises
técnicas, e não políticas. Ao reclamarem que os juros já deviam ter baixado
porque até deflação já temos, os críticos do Banco Central independente não
entendem que estão reconhecendo o bom trabalho do presidente Roberto Campos
Neto, que propicia um ambiente econômico favorável à redução dos juros.
Os sinais que o governo Lula vem dando na condução da política econômica ajudarão o país na sua relação internacional. O êxito que se prenuncia dará ao Brasil um papel mais relevante nas instituições globais e ajudará a retomarmos o protagonismo na política ambiental, que é o nosso verdadeiro trunfo. O fundamento principal da derrota da cientista Thelma Krug, candidata brasileira à presidência do IPCC — Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas —, é que a Europa e os EUA se uniram para eleger o representante inglês e dar uma demonstração de força diante de Lula. Querem continuar no controle das políticas climáticas no mundo. É nesse contexto que o país tem de atuar.
Sei.
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