O Globo
A ministra lembra que o governo ganhou a
eleição por ‘milésimos’ e, por isso, tem sim de negociar com outras forças
políticas
A ministra Simone Tebet,
do Planejamento, define como “decepcionante” a campanha feita por integrantes
do governo de recondução de Augusto
Aras para a Procuradoria-Geral da República. Conta que os partidos do
centro democrático que apoiaram o presidente Lula precisam ter altruísmo em
2024 na construção de alianças. “Sabemos que o embate de 2026 começa em 2024.”
Ao mesmo tempo que está de olho na política, Tebet prepara o Orçamento, que, este ano, será difícil tecnicamente. A meta é de déficit zero, mas as receitas não estão garantidas. Ela, contudo, acha que “o desafio é factível”.
Em entrevista que me concedeu ontem na
Globonews, a ministra foi com a mesma desenvoltura da política para a economia.
Mas, horas depois, ela estaria numa situação complicada. À uma da tarde ela me
disse que não havia conversado com o presidente sobre a escolha para a
presidência do IBGE e que não conhecia Marcio Pochmann. Afirmou que o assunto
seria tratado na hora certa.
Às sete da noite, o ministro Paulo Pimenta
anunciou o nome de Pochmann para presidir o IBGE.
Ela está fechando o Orçamento, que este ano
é mais complexo do que em anos anteriores porque não foram definidos alguns
parâmetros.
— Estamos trabalhando com o arcabouço como
ele saiu do Senado, que abre um espaço fiscal de R$ 30 bilhões de despesa
condicionada à verificação da inflação do final do ano. Além disso, a própria
legislação permite trabalhar com receitas que estão vindo, desde que o projeto
seja enviado ao Congresso até 31 de agosto. Se porventura o Congresso mudar a
fórmula do arcabouço e for necessário cortar, a Comissão Mista de Orçamento
fará isso.
Há também pressão por mais gastos.
— Nós perguntamos ao presidente quais eram
as prioridades dele. O presidente decidiu, acertadamente a meu ver, manter a
política de valorização do salário mínimo, mas isso impacta na Previdência. Ele
quer dinheiro para o novo PAC, o Brasil hoje gasta muito pouco com
investimento.
Perguntei a ela se haverá muito choro
quando o Orçamento for enviado ao Congresso no fim de agosto, e ela disse que a
maioria dos ministérios terá despesa discricionária mantida.
— O Brasil saiu com um déficit social muito
grande, da pandemia e do desgoverno e da falta de política de planejamento. E o
planejamento é importante porque nós temos que responder que país o Brasil vai
ser daqui a 10 anos. O Brasil não é mais jovem, está envelhecendo e tem um
dever de casa para fazer.
A ministra, quando era senadora, participou
intensamente da CPI da Covid, que encontrou sólidos indícios de crimes do
governo anterior na pandemia. Mas a denúncia foi engavetada pelo
procurador-geral da República. Com base nisso perguntei como ela avaliava a defesa
de integrantes do governo e do PT de recondução de Augusto Aras.
— Decepcionante, e se isso efetivamente
acontecer, a meu ver, seria um desastre e eu ficaria extremamente decepcionada.
Fala alguém que votou no primeiro momento na indicação de Aras, mas que votou
contra a recondução dele justamente por ver o que ele estava fazendo com o
Ministério Público, que é um órgão de fiscalização, controle da máquina
pública. Uma gestão de subserviência e aceno político ao presidente de plantão.
Questionei ainda que futuro ela acha que o
ex-presidente Bolsonaro terá, e ela respondeu:
— Se depender de mim, Bolsonaro está morto
politicamente. Mas eu tenho convicção, sou realista, faço política há muito
tempo, sei que não é somente em quatro anos que você derruba uma ideia. Uma
parte da população brasileira pensa assim, e não estamos falando só da extrema
direita. Estamos falando também de direita, direita conservadora e extrema
direita. A grade é muito maior.
Sobre a negociação com partidos do centrão,
ela lembra que o governo ganhou por “milésimos” e, dentro do presidencialismo
de coalizão, tem sim que negociar com outras forças políticas. Sobre a eleição
de 2024, Simone Tebet contou o que disse o presidente do MDB, deputado Baleia
Rossi:
— Nós não podemos dormir no ponto. Em nome
da democracia, os partidos do centro democrático, que apoiam Lula, temos que
ter altruísmo e já no primeiro turno, nas cidades de porte médio, fazer
alianças.
Tebet lembra que faz parte do núcleo
econômico, mas admite que vive de olho na política. “Respiro política”. Por
isso estará no ano que vem nos fins de semana defendendo as ideias do seu
partido.
É isso aí.
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