quinta-feira, 27 de julho de 2023

Míriam Leitão - A visão de Tebet da economia à política

O Globo

A ministra lembra que o governo ganhou a eleição por ‘milésimos’ e, por isso, tem sim de negociar com outras forças políticas

A ministra Simone Tebet, do Planejamento, define como “decepcionante” a campanha feita por integrantes do governo de recondução de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República. Conta que os partidos do centro democrático que apoiaram o presidente Lula precisam ter altruísmo em 2024 na construção de alianças. “Sabemos que o embate de 2026 começa em 2024.”

Ao mesmo tempo que está de olho na política, Tebet prepara o Orçamento, que, este ano, será difícil tecnicamente. A meta é de déficit zero, mas as receitas não estão garantidas. Ela, contudo, acha que “o desafio é factível”.

Em entrevista que me concedeu ontem na Globonews, a ministra foi com a mesma desenvoltura da política para a economia. Mas, horas depois, ela estaria numa situação complicada. À uma da tarde ela me disse que não havia conversado com o presidente sobre a escolha para a presidência do IBGE e que não conhecia Marcio Pochmann. Afirmou que o assunto seria tratado na hora certa.

Às sete da noite, o ministro Paulo Pimenta anunciou o nome de Pochmann para presidir o IBGE.

Ela está fechando o Orçamento, que este ano é mais complexo do que em anos anteriores porque não foram definidos alguns parâmetros.

— Estamos trabalhando com o arcabouço como ele saiu do Senado, que abre um espaço fiscal de R$ 30 bilhões de despesa condicionada à verificação da inflação do final do ano. Além disso, a própria legislação permite trabalhar com receitas que estão vindo, desde que o projeto seja enviado ao Congresso até 31 de agosto. Se porventura o Congresso mudar a fórmula do arcabouço e for necessário cortar, a Comissão Mista de Orçamento fará isso.

Há também pressão por mais gastos.

— Nós perguntamos ao presidente quais eram as prioridades dele. O presidente decidiu, acertadamente a meu ver, manter a política de valorização do salário mínimo, mas isso impacta na Previdência. Ele quer dinheiro para o novo PAC, o Brasil hoje gasta muito pouco com investimento.

Perguntei a ela se haverá muito choro quando o Orçamento for enviado ao Congresso no fim de agosto, e ela disse que a maioria dos ministérios terá despesa discricionária mantida.

— O Brasil saiu com um déficit social muito grande, da pandemia e do desgoverno e da falta de política de planejamento. E o planejamento é importante porque nós temos que responder que país o Brasil vai ser daqui a 10 anos. O Brasil não é mais jovem, está envelhecendo e tem um dever de casa para fazer.

A ministra, quando era senadora, participou intensamente da CPI da Covid, que encontrou sólidos indícios de crimes do governo anterior na pandemia. Mas a denúncia foi engavetada pelo procurador-geral da República. Com base nisso perguntei como ela avaliava a defesa de integrantes do governo e do PT de recondução de Augusto Aras.

— Decepcionante, e se isso efetivamente acontecer, a meu ver, seria um desastre e eu ficaria extremamente decepcionada. Fala alguém que votou no primeiro momento na indicação de Aras, mas que votou contra a recondução dele justamente por ver o que ele estava fazendo com o Ministério Público, que é um órgão de fiscalização, controle da máquina pública. Uma gestão de subserviência e aceno político ao presidente de plantão.

Questionei ainda que futuro ela acha que o ex-presidente Bolsonaro terá, e ela respondeu:

— Se depender de mim, Bolsonaro está morto politicamente. Mas eu tenho convicção, sou realista, faço política há muito tempo, sei que não é somente em quatro anos que você derruba uma ideia. Uma parte da população brasileira pensa assim, e não estamos falando só da extrema direita. Estamos falando também de direita, direita conservadora e extrema direita. A grade é muito maior.

Sobre a negociação com partidos do centrão, ela lembra que o governo ganhou por “milésimos” e, dentro do presidencialismo de coalizão, tem sim que negociar com outras forças políticas. Sobre a eleição de 2024, Simone Tebet contou o que disse o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi:

— Nós não podemos dormir no ponto. Em nome da democracia, os partidos do centro democrático, que apoiam Lula, temos que ter altruísmo e já no primeiro turno, nas cidades de porte médio, fazer alianças.

Tebet lembra que faz parte do núcleo econômico, mas admite que vive de olho na política. “Respiro política”. Por isso estará no ano que vem nos fins de semana defendendo as ideias do seu partido.

 

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