O Globo
Com empenho de Lula e Marina, brasileira
pode comandar o Painel Intergovernamental de Mudança Climática. O assunto é
urgente, o Brasil tem nova atitude, e a candidata é qualificada
A ministra Marina Silva estava
ontem em Nairóbi, no Quênia. Junto dela, a secretária-geral do Itamaraty,
embaixadora Maria Laura da Rocha. Num evento na embaixada do Brasil, defenderam
a candidatura da cientista brasileira Thelma Krug para a presidência do Painel
Intergovernamental de Mudança
Climática, o IPCC.
Se Thelma for escolhida na eleição que começa amanhã, será a primeira mulher a comandar o mais importante grupo de cientistas da ONU e a primeira pessoa da América Latina e do Caribe a estar no comando do Painel.
Em busca dessa vitória, o Itamaraty e o
Ministério do Meio Ambiente têm trabalhado juntos. O presidente Lula mandou
carta aos países, e os diplomatas fizeram um corpo a corpo. Thelma Krug tem
experiência de 21 anos no IPCC, foi a primeira mulher a ocupar sua
vice-presidência.
Ela chega com uma plataforma importante
para atualizar a maneira pela qual o Painel se comunica para que a mensagem
científica chegue mais rapidamente aos tomadores de decisão. Foi o que ela
explicou no evento na embaixada do Brasil em Nairóbi:
— A ciência precisa ser utilizada em
benefício da sociedade como um todo. No caso do IPCC, é essencial estabelecer a
conexão entre as descobertas científicas e os esforços dos pesquisadores para
elaborar o relatório. No entanto, isso tem que ser seguido por uma reflexão
sobre como os países utilizam essas informações para desenvolver suas políticas
nacionais. Somos neutros em nossa linguagem, mas a ciência deve estar presente
para permitir que os governos tomem decisões acertadas, com base na ciência, no
combate às mudanças climáticas.
A ministra Marina Silva falou na reunião na
embaixada, comandada pelo embaixador Silvio Albuquerque, pedindo votos para
Thelma e lembrando a nova atitude das políticas externa e ambiental
brasileiras:
— Após quatro anos de abandono de políticas
públicas e obscurantismo, o Brasil voltou: voltou a acreditar na ciência,
voltou a combater com determinação a ameaça da mudança climática, voltou a
contribuir de maneira ativa para as discussões internacionais em prol da
proteção do nosso planeta.
Marina disse que, nos primeiros seis meses,
o Brasil conseguiu reduzir em 30% o desmatamento na Amazônia, como parte do
esforço do governo Lula de colocar “o combate à mudança do clima como
prioridade nacional”.
Segundo Marina, é nesse contexto “de
renovado compromisso e senso de urgência” que o Brasil apresentou a candidatura
de Thelma Krug. As duas já trabalharam juntas, quando Thelma foi secretária de
mudança climática na primeiro gestão de Marina no ministério.
O Brasil passará a presidir o G20 no ano
que vem e sediará a COP 30, em 2025. Ter uma brasileira no comando do IPCC
seria importante na visão da diplomacia brasileira, até pelo aumento dos sinais
de que a mudança climática não é um fenômeno futuro a evitar, é um risco cada
vez mais presente.
Na entrevista
que concedeu à repórter Ana Rosa Alves, do GLOBO, no domingo, Thelma disse
que tem questionado muito se, “com a velocidade com que as mudanças do clima
estão acontecendo, esses grandes relatórios enciclopédicos estão mesmo
ajudando”.
O IPCC publica de cinco em cinco anos um
grande documento sobre o avanço das mudanças do clima, suas causas, riscos e
evidências. Eles foram decisivos no período em que o negacionismo ainda tinha
uma parcela da comunidade científica.
Os relatórios foram desmontando essas
posições e aumentando as comprovações de que o aquecimento global é resultado
da ação humana e das emissões dos gases de efeito estufa. “Não podemos esperar
cinco, seis anos, para dizer que estamos no fundo do poço”. Segundo ela “a
ciência está evoluindo de uma forma exponencial”.
Marina disse, no discurso em que pediu
votos para Thelma Krug, em competição com outros três candidatos, que o Brasil
vai trabalhar “incansavelmente para unir a comunidade internacional em favor de
objetivos ambiciosos para combater o aquecimento global, desde agora e até a
COP 30, que vamos realizar em Belém, no coração da Amazônia”.
O assunto é urgente, o Brasil tem nova
atitude, novo protagonismo internacional, e a candidata é qualificada. Seria
relevante ter essa vitória na ONU. De Nairóbi, Marina segue para a Índia, onde
participa da reunião dos ministros de Meio Ambiente do G20, que começa a
preparar a passagem do bastão para o presidente Lula na presidência do grupo,
no ano que vem.
Marina sabe das coisas.
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