terça-feira, 25 de julho de 2023

Míriam Leitão - Brasil busca o topo do IPCC

O Globo

Com empenho de Lula e Marina, brasileira pode comandar o Painel Intergovernamental de Mudança Climática. O assunto é urgente, o Brasil tem nova atitude, e a candidata é qualificada

A ministra Marina Silva estava ontem em Nairóbi, no Quênia. Junto dela, a secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura da Rocha. Num evento na embaixada do Brasil, defenderam a candidatura da cientista brasileira Thelma Krug para a presidência do Painel Intergovernamental de Mudança Climática, o IPCC.

Se Thelma for escolhida na eleição que começa amanhã, será a primeira mulher a comandar o mais importante grupo de cientistas da ONU e a primeira pessoa da América Latina e do Caribe a estar no comando do Painel.

Em busca dessa vitória, o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente têm trabalhado juntos. O presidente Lula mandou carta aos países, e os diplomatas fizeram um corpo a corpo. Thelma Krug tem experiência de 21 anos no IPCC, foi a primeira mulher a ocupar sua vice-presidência.

Ela chega com uma plataforma importante para atualizar a maneira pela qual o Painel se comunica para que a mensagem científica chegue mais rapidamente aos tomadores de decisão. Foi o que ela explicou no evento na embaixada do Brasil em Nairóbi:

— A ciência precisa ser utilizada em benefício da sociedade como um todo. No caso do IPCC, é essencial estabelecer a conexão entre as descobertas científicas e os esforços dos pesquisadores para elaborar o relatório. No entanto, isso tem que ser seguido por uma reflexão sobre como os países utilizam essas informações para desenvolver suas políticas nacionais. Somos neutros em nossa linguagem, mas a ciência deve estar presente para permitir que os governos tomem decisões acertadas, com base na ciência, no combate às mudanças climáticas.

A ministra Marina Silva falou na reunião na embaixada, comandada pelo embaixador Silvio Albuquerque, pedindo votos para Thelma e lembrando a nova atitude das políticas externa e ambiental brasileiras:

— Após quatro anos de abandono de políticas públicas e obscurantismo, o Brasil voltou: voltou a acreditar na ciência, voltou a combater com determinação a ameaça da mudança climática, voltou a contribuir de maneira ativa para as discussões internacionais em prol da proteção do nosso planeta.

Marina disse que, nos primeiros seis meses, o Brasil conseguiu reduzir em 30% o desmatamento na Amazônia, como parte do esforço do governo Lula de colocar “o combate à mudança do clima como prioridade nacional”.

Segundo Marina, é nesse contexto “de renovado compromisso e senso de urgência” que o Brasil apresentou a candidatura de Thelma Krug. As duas já trabalharam juntas, quando Thelma foi secretária de mudança climática na primeiro gestão de Marina no ministério.

O Brasil passará a presidir o G20 no ano que vem e sediará a COP 30, em 2025. Ter uma brasileira no comando do IPCC seria importante na visão da diplomacia brasileira, até pelo aumento dos sinais de que a mudança climática não é um fenômeno futuro a evitar, é um risco cada vez mais presente.

Na entrevista que concedeu à repórter Ana Rosa Alves, do GLOBO, no domingo, Thelma disse que tem questionado muito se, “com a velocidade com que as mudanças do clima estão acontecendo, esses grandes relatórios enciclopédicos estão mesmo ajudando”.

O IPCC publica de cinco em cinco anos um grande documento sobre o avanço das mudanças do clima, suas causas, riscos e evidências. Eles foram decisivos no período em que o negacionismo ainda tinha uma parcela da comunidade científica.

Os relatórios foram desmontando essas posições e aumentando as comprovações de que o aquecimento global é resultado da ação humana e das emissões dos gases de efeito estufa. “Não podemos esperar cinco, seis anos, para dizer que estamos no fundo do poço”. Segundo ela “a ciência está evoluindo de uma forma exponencial”.

Marina disse, no discurso em que pediu votos para Thelma Krug, em competição com outros três candidatos, que o Brasil vai trabalhar “incansavelmente para unir a comunidade internacional em favor de objetivos ambiciosos para combater o aquecimento global, desde agora e até a COP 30, que vamos realizar em Belém, no coração da Amazônia”.

O assunto é urgente, o Brasil tem nova atitude, novo protagonismo internacional, e a candidata é qualificada. Seria relevante ter essa vitória na ONU. De Nairóbi, Marina segue para a Índia, onde participa da reunião dos ministros de Meio Ambiente do G20, que começa a preparar a passagem do bastão para o presidente Lula na presidência do grupo, no ano que vem.

 

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