O Globo
A queda forte dos preços no atacado é parte
da caminhada para a meta de inflação e da garantia de um bom segundo semestre
A inflação vai subir nos próximos três
meses, mas isso não vai alterar as projeções de queda no médio prazo. A pequena
deflação de junho não surpreendeu, mas consolida outro cenário para a
conjuntura, totalmente diferente de há um ano, com uma série de efeitos
positivos e melhora nas perspectivas da economia. É em parte resultado da
política monetária, mas não só. Tem também os vários acertos da política
econômica que, aliás, provocaram uma reviravolta na perspectiva do mercado
financeiro. E, além disso, houve a safra agrícola. O economista José Roberto
Mendonça de Barros avisa que há boas indicações para frente, com o derretimento
dos preços no atacado.
— No nosso acompanhamento diário das cotações no atacado, a gente vê o quanto é importante mesmo essa evolução recente. Só para você ter uma ideia, a variação até 10 de julho no atacado deste ano contra o ano passado mostra os seguintes números de queda de preços: algodão caiu 36%, café 22%, milho, 20%, trigo, 17%, boi gordo, 17% e bezerro, 21%. De relevante só o que subiu foi o arroz, 21% por causa da safra ruim no Rio Grande do Sul e o suíno que havia caído demais no ano passado. É impressionante a força da queda no atacado agrícola e é isso que está chegando no varejo e tem mais para chegar — me disse ele.
O IPCA de junho já trouxe queda de 0,66%
nos alimentos e bebidas e de mais de 1% em alimento no domicílio. José Roberto
chama a atenção para os efeitos na faixa mais pobre da população.
— Essa queda dos preços agrícolas é a coisa
mais consolidada, além da aprovação da reforma tributária, para o processo de
caminhar na direção da meta de inflação. É uma queda forte e consistente,
porque se inicia na oferta, do custo de alimentação, o que equivale a um delta
no salário para as classes, C-, D e E. E vai ter efeito para frente.
Na base da pirâmide social, os preços em
queda provocarão melhora na qualidade de vida. Esse ambiente também permitirá a
queda dos juros com todo o efeito positivo que isso passará a ter. No topo da
pirâmide, a Faria Lima começa a olhar o governo e, principalmente, o ministro
Fernando Haddad com outros olhos. A virada de humor captada pela Genial/Quaest,
que divulguei ontem cedo no meu blog, é impressionante. Em março, entre 94
gestores, economistas e analistas de mercado financeiro ouvidos na pesquisa,
90% faziam avaliação negativa do governo. Em maio, 86%. Agora, 44%. Mas o
recordista de salto olímpico foi o ministro da Fazenda. Apenas 10% dos
integrantes do mercado financeiro avaliavam positivamente o trabalho de Haddad
em março. Esse número passou para 26% em maio e agora foi para 65%. Em março,
98% dos entrevistados diziam que a política econômica estava na direção errada,
em maio, 90%, e agora 53%. Os que acham que a direção está certa eram 2%, agora
47%.
O que mudou tão radicalmente? Como eu
escrevi quando saiu a primeira rodada da Genial/Quaest, os operadores de
mercado financeiro estavam se deixando levar por ideias preconcebidas do que
seria a política econômica do ministro Haddad. Como a maioria do mercado votou
no candidato que perdeu a eleição, estavam analisando com o fígado, ou,
ideologicamente. O que depõe contra a objetividade que devem ter os que
administram o dinheiro alheio. Até porque eles tomam decisões com base em suas
expectativas e acabam tornando realidade as profecias que fazem sobre os preços
dos ativos. Em março, 78% achavam que a economia iria piorar, agora só 21%. Os
que acham que vai melhorar são 53%.
E vai melhorar? A inflação vai subir nos
próximos três meses porque houve deflação em julho, agosto e setembro do ano
passado com a desoneração dos combustíveis feita como manobra para ganhar os
votos da classe média para Jair Bolsonaro. Quando esses números saírem da
conta, mesmo a inflação mensal sendo baixa haverá uma alta do acumulado. Mas o
número do final do ano está ficando cada vez mais perto do teto da meta, 4,75%.
Para 2024, as previsões são de inflação na meta. Os juros vão cair a partir de
agosto em todas as reuniões do ano. Esse início do ciclo de afrouxamento da
política monetária tem efeitos diretos na economia. A reforma tributária
passará agora pela etapa do Senado e é possível que seja aperfeiçoada. Os
preços de alimentos, como disse Mendonça de Barros, devem continuar cedendo, o
que melhora a renda das famílias mais pobres. Sim, a economia pode ter um bom
segundo semestre.
Na torcida.
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