quarta-feira, 12 de julho de 2023

Vinicius Torres Freire - Inflação ainda não acabou

Folha de S. Paulo

Números melhoram, juros de prazo longo caem, mas carestia resiste nos serviços

Na média, os preços caíram 0,08% de maio para junho. A inflação anual, o IPCA acumulado nos últimos 12 meses, baixou para 3,16%. As notícias são boas, mas ainda há focos de incêndio nos preços; o IPCA anual assim baixo é um pouquinho ilusório.

Outras medidas de inflação importam porque o Banco Central vai prestar atenção nisso quando decidir o ritmo da queda da Selic, a taxa básica de juros, de curtíssimo prazo. Importam também porque a vida continua difícil, claro, considerados alguns aumentos de preços muito importantes.

De qualquer modo, não estamos em um processo de baixa de preços sintomático de um esfriamento dramático do consumo ou do ritmo geral da economia; nem o remédio dos juros foi inútil porque a doença começou a passar, como acredita o comando do PT.

Nos últimos 12 meses, o preço de planos de saúde aumentou em média 14,5%. Comer fora de casa ficou 7,2% mais caro. Escolas, cursos etc. tiveram aumento de 8,3%. Aluguéis, 6,6%. No conjunto, a inflação de serviços ainda está em 6,2% ao ano; a de serviços em que os preços reagem mais ao ritmo da atividade econômica, em 6,7%.

A baixa dos preços tem vindo de bens que costumam variar bastante ("voláteis") e não necessariamente por causa do ritmo da economia. Isto é, do custo dos alimentos que se preparam em casa, que podem custar mais ou menos também porque choveu muito ou pouco, por causa de safras grandes ou pequenas, aqui ou no restante do mundo. No caso relevante agora, a baixa tem vindo também de preços de combustíveis, que têm caído por causa do arrefecimento da crise global de energia e do impacto da guerra de Putin, do desaquecimento da economia mundial e da baixa do dólar, além de uma colaboração adicional da Petrobras.

É ruim? Claro que não. Inflação menor nos "preços voláteis" é inflação menor, ponto. Mesmo uma queda de preços transitória em alimentos e combustíveis desidrata a inflação média geral, o IPCA, o que ajuda a conter a contaminação de preços no futuro (diminui indexação, inércia, expectativas). Mas, note-se, tais preços são voláteis, um risco.

No entanto, a inflação resiste nos serviços, em parte porque o mercado de trabalho ainda está relativamente aquecido. É muito provável que a carestia persistente de serviços leve o Banco Central a diminuir a Selic a conta gotas, tudo mais constante.

Levar inflação e expectativas para a meta de 3% em 2024 é importante para Lula 3. Permite que a Selic caia mais e mais rápido. Diminui o risco de que um crescimento um tanto maior provoque nova alta de juros lá em fins de 2025. Permite a acomodação de choques e outros azares da vida.

Há riscos. Se inflação e juros continuarem altos no mundo rico, o piso da Selic aqui no Brasil deve ser maior também. Se o governo não conseguir dinheiro (mais receita de impostos) bastante para conter o déficit, as taxas de juros caem menos.

Ainda assim, há melhorias. Continuam a baixar as taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro, onde se definem os custos de financiamento de dívida e déficits do governo e os pisos do custo do crédito na economia em geral.

A taxa para o prazo de três anos caiu a pouco mais de 10%. Foram a 13,6% em novembro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a fazer aqueles discursos equivocados sobre a dívida pública e a meta de inflação.

A redução das taxas ditas "longas" ajudou, por exemplo, a reanimar o mercado de capitais, onde as empresas levantam dinheiro para capital de giro, investimento em infraestrutura ou refinanciamento de dívidas. Juros altos e o medo provocado pela fraude das Americanas haviam derrubado esse mercado neste ano. Em junho, houve recuperação considerável.

 

3 comentários:

  1. Este artigo do Vinícios Torres Freire deveria ser dedicado à seriedade e profissionalismo de Roberto Campos Neto, que aumentou os juros entre março/2021 e agosto/2023 para mitigar as consequências da gastança eleitoral de Bolsonaro em um país que já apresentava tanto desequilíbrio econômico como consequência da gastança de Lula2 e Dilma1e2.

    Ter que tomar decisão sobre taxa de juros com a realidade que os dados e os estudos revelam, mas fazer isso sofrendo ataques de negacionistas do conhecimento em economia, como os repetidos ataques de Lula contra o Banco Central, torna tudo muito mais difícil.

    E pior é que o que deveria ter sido antecipado em medidas para conter a inflação era na politica fiscal, que é responsabilidade de Lula e até agora, depois de quase um ano que Lula ganhou a eleição, nem âncora fiscal aprovada o Brasil tem e a que está em discussão na Câmara é por esforço de Haddad quase que sozinho, com o PT e Lula xingando porque, assim como Bolsonaro, querem gastar.

    E se a inflação está se encaminhando para a meta, por enquanto isto é mérito quase que apenas de Roberto Campos, que tem defendido a moeda como pode diante de falta de política melhor adorada pelo governo federal.

    Vamos esperar o ano que vem para as coisas melhorarem, já que estamos com quase um ano perdido.

    Temos a reforma tributária finalmente andando e querendo ou não há um mérito do atual governo nisso, mas novamente é Haddad que está se esforçando, não Lula.

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  2. Não se compara Lula a Bolsonaro,jamais.

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    1. ■Quando é um bolsonarista que me retruca, ele o faz assim::
      ▪"Não se compara Bolsonaro com Lula, jamais!

      Sim, compreendo:: "Ele" não quer que Bolsonaro seja comparado com Lula. São as razões dele ; não as minhas, que entendo serem as dos fatos e dados.
      ▪A isto:: aos dados e fatos, eles não respondem e nem acham necessário responder.

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