Folha de S. Paulo
Bolsonaro versus Tarcísio ou chutes sobre
preços não são o assunto da Reforma Tributária
No jorro de notícias e conversas fiadas
sobre a Reforma
Tributária, dá-se grande importância à pinimba
entre Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro. Hum.
O capitão das trevas gostaria de derrubar a
mudança dos impostos porque, quando não é um parasita, quer depredar "o
sistema" ou espalhar imundície por onde quer que exista vida civilizada.
Como Freitas passou a negociar um acordo com os adeptos da reforma, os Bolsonaro
convocaram a seita deles para dar uma surra digital no governador de São Paulo,
até a semana passada um vassalo nominal do bolsonarismo.
O assunto tem ainda menos relevância prática do que essas conversas equivocadas e chutes sobre qual bem ou serviço vai custar mais ou menos com a Reforma Tributária, se o "streaming", o bombom, o remédio, o jet-ski ou sei lá o quê. Não saberemos tão cedo. O assunto central não é esse, é a aprovação do imposto sobre valor agregado com a maior uniformidade possível. O resto vai depender da longa e complicada implementação da reforma, se passar.
A implicação política mais importante da
reforma, caso passe, seria o fortalecimento do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva, "tudo mais constante". Isto é, caso o governo não
faça besteira maior ou consiga arrumar dinheiro para reduzir seu déficit; caso
a economia mundial não vá para o vinagre ou os juros possam cair no mundo rico.
Etc.
A refrega e os prognósticos exaltados sobre
a "divisão
da direita" fazem a gente lembrar das peripécias da historinha de
Sergio Moro.
O ex-juiz foi escorraçado com humilhação do
ministério de Bolsonaro em abril de 2020. Acusou seu ex-chefete de meter a mão
na Polícia Federal. Foi ameaçado de linchamento virtual, tal qual Freitas. Mas,
já em outubro de 2022, Moro estava nos debates dos candidatos a presidente,
carregando a mala de Bolsonaro, quando foi comparado ao candidato Padre Kelmon.
Sim, Moro não tinha alternativa política.
Levara rasteiras vexaminosas de políticos profissionais e não conseguira ser
candidato a presidente. A Lava Jato fora desmoralizada, em grande parte por obra
de Moro, além de espezinhada pelo sistema jurídico-político. Não conseguiu ser
candidato a senador por São Paulo. Elegeu-se pelo Paraná, no União Brasil, mas
faz parte da turma do fundinho do Senado, isolado. Tarcísio de Freitas é
governador de São Paulo.
Sim, a situação política de Moro e Freitas
foi diferente. Mas, em 2024 ou em 2026, sabe-se lá o que será de Bolsonaro e de
Freitas, ex-coadjuvante de "lives" infames do presidente das trevas.
Sabe-se lá se haverá justiça, se Bolsonaro acabará na cadeia ou banido por mais
tempo das eleições.
Quase impossível prever se Freitas vai
conseguir escapar desse triturador de políticos e candidaturas que é o governo
paulista. Se conseguir, pode até juntar a direita negocista mais normal, como
está se arranjando na política desertificada de São Paulo, dependendo menos de
Bolsonaro. Mesmo assim, pode não ter vontade de botar o nariz para fora na
eleição de 2026 caso Lula 3 seja sucesso de público e crítica.
Em resumo, pode ser que o capitão das
trevas e o candidato a capitão da direita paulista até venham a se arranjar, a
depender do interesse do negócio.
Por ora, Bolsonaro não tem força política
nem mesmo para influenciar o PL a fechar questão contra a Reforma Tributária.
Não apita nada.
O PL o guarda no banco ou quem sabe na geladeira, para ver se o ferrabrás das cavernas ainda será uma marca vendável nas próximas eleições ou um agitador de massas útil no caso de Lula 3 adernar. Por ora, não passa de um investimento que teve rentabilidade no passado, o que não é garantia de rentabilidade futura, como se lê em prospecto de aplicação financeira.
Análise muito boa.
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