Folha de S. Paulo
Governo não faz campanha nacional e
política para aprovar mudança e causa ira no Congresso
O governo tem liberado ou prometido mais
dinheiros a parlamentares desde o final do mês passado. Não se trata aqui de
corrupção, mas de emendas ou
de crédito rural, por exemplo. Vai enfim entregar as chaves do ministério
do Turismo ao União Brasil. A demora ameaçava quebrar uns dedos do
governo em votações do Congresso.
É esforço pela reforma
tributária? Não. O Planalto e a Fazenda estão empenhados em aprovar a
mudança no Carf,
o tribunal administrativo dos litígios entre contribuintes e Receita, de modo
que o governo volte a ter voto de desempate.
A Fazenda ainda se bate pela reforma tributária. Mas ministros e assessores do Planalto e, em particular, Luiz Inácio Lula da Silva largaram a negociação da tributária na mão do Congresso e de representantes da Fazenda. No fim da quarta-feira, Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, chegou para aliviar o clima, que era de palavras impublicáveis sobre a "ala política do governo".
É o que dizem os parlamentares envolvidos
na reforma, além de gente da cúpula do União Brasil, do Republicanos e do
conselho de caciques próximo de Arthur Lira (PP-AL).
Até certo ponto, é razoável que governo e
presidente não mergulhem de cabeça ou soltem o braço em assuntos do Congresso,
por motivos políticos e institucionais. No entanto, a reforma tributária é a
principal mudança a ser promovida neste governo, em tese com seu apoio.
É reforma que pode merecer o horroroso
clichê adjetivo de "histórica", pois mudaria um sistema lunático e
velho de mais
de meio século. Não terá efeitos práticos imediatos (vai levar uns três
anos, para começar), embora vá mudar o clima econômico e seja fundamental para
que o país possa crescer mais ao longo da próxima década. Se cair agora, vai
ser muito difícil que volte à pauta em breve.
No entanto, não houve grande campanha
nacional de esclarecimento. Lula fala do assunto como se fosse um observador.
Está ocupado de modo pouco eficiente com
o acordo Mercosul-União Europeia, com a fantasia da moeda única ou comum, com a
Venezuela.
No cotidiano da política, o Planalto pouco
ajuda a ganhar votos. O PT está desaparecido. O partido não se empenha pela
reforma e, no Congresso, a atuação conjunta dos petistas é nula. Mas o PT
ruidosamente se bateu pelo projeto de cortar 0,25 ponto percentual da taxa de
juros em agosto.
Enquanto isso, governadores, em particular
Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), prefeitos de cidades maiores, parte do
agronegócio, do grande comércio e de certos serviços "digitais"
tentam desfigurar a reforma.
Aproveitam o tempo da disputa entre
Sul-Sudeste e Nordeste-Norte a fim de cavar mais exceções. Sul-Sudeste, São
Paulo à frente, teme levar rasteiras no futuro Conselho Federativo que vai
administrar as receitas estaduais e municipais. Querem garantias.
Uns setores acham ou dizem que vão pagar
mais imposto, muita vez baseados em cálculos grosseiros, ineptos ou em mera
picaretagem. Tentam entrar na lista de exceções da alíquota uniforme e geral do
IBS, o imposto que vai substituir ICMS e ISS.
A bancada da agropecuária, por exemplo,
quer alíquota reduzida ainda maior para produtos de seu interesse ou, então,
que a reforma fixe uma faixa maior de redução (a partir de 50%), a ser fixada
mais adiante.
Outros setores vão pegar carona na
oportunidade de barganha. Se não for agora, vão tentar na regulamentação da
reforma. Seria porta aberta para a transformação da mudança dos impostos em
monstrengo e casa de tolerância de favores a interesses particularistas ou
francamente malandros.
No cálculo político mais mesquinho, a
aprovação do essencial da reforma seria uma grande vitória de Lula 3. Uma
derrota vai azedar o clima.
Lula e o PT estão ''distantes'' para dar cara à reforma de projeto-nacional e não uma pauta ideológica de esquerda.
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