O Estado de S. Paulo
O ativismo internacional do presidente
carece de planos de ação
Lula decidiu sair ao mundo esbravejando.
Não se sabe se ele está satisfeito com a própria performance, mas até aqui a
tática aguarda melhores resultados.
O presidente brasileiro esbravejou contra
potências ocidentais que estariam mais interessadas em prolongar do que
terminar a guerra da Ucrânia. Colheu como resposta uma sucessão de refutações
em público por parte de dirigentes dessa aliança (e de variadas correntes
políticas) – e severas críticas de relevantes órgãos de imprensa nos dois lados
do Atlântico.
Esbravejou contra a “inoperância” da ONU e a composição do seu Conselho de Segurança, pleiteando uma “governança global” que nunca existiu, além de um lugar nesse mesmo conselho do qual o Brasil continua distante como sempre.
Esbravejou contra o FMI e o dólar
prometendo quebrar um galho para seu amigo o presidente da falida Argentina,
mas é com o Fundo que o governo argentino está se acertando para obter um
refresco no pagamento de parcelas da dívida.
As mais recentes diatribes têm como alvo a
União Europeia, com a qual os sócios do Mercosul negociam um acordo amplo há 25
anos. Muito do que os europeus tentam impor é protecionismo mal disfarçado, o
que não constitui a menor novidade. Mas a dúvida que está no ar é se Lula quer
mesmo concluir as negociações, ou se as declara mortas por culpa do outro lado.
As últimas perorações do presidente
brasileiro sobre integração regional e atuação conjunta em negociações
multilaterais foram contempladas pelo colega presidente do vizinho Uruguai com
uma severa crítica ao “imobilismo” e incapacidade de ação do bloco que Lula passou
a presidir nesta semana, o Mercosul. E com a recusa em assinar um comunicado
conjunto.
Boa parte do voluntarismo com que o
presidente brasileiro se atirou na arena internacional carece de um plano bem
desenhado. É o caso dos esforços para se apresentar como mediador da paz na
guerra da Ucrânia, mas também para retomar o tradicional papel brasileiro de
“líder” da América do Sul, severamente prejudicado no momento por passar o pano
em ditaduras, com destaque para a Venezuela.
A existência de uma clara estratégia será
testada em breve na questão do clima, devido não só a uma série de eventos
internacionais nos quais se antecipa que o Brasil ocupará um lugar de destaque.
Diplomatas experientes assinalam que ainda se aguarda, por parte do Brasil,
propostas para cumprir os compromissos para redução de gases do efeito estufa e
a regulamentação do tão falado mercado de carbono.
Diante disso, esbravejar é pouco.
Então tá!
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