quinta-feira, 6 de julho de 2023

William Waack - Falando grosso, mas sem um plano

O Estado de S. Paulo

O ativismo internacional do presidente carece de planos de ação

Lula decidiu sair ao mundo esbravejando. Não se sabe se ele está satisfeito com a própria performance, mas até aqui a tática aguarda melhores resultados.

O presidente brasileiro esbravejou contra potências ocidentais que estariam mais interessadas em prolongar do que terminar a guerra da Ucrânia. Colheu como resposta uma sucessão de refutações em público por parte de dirigentes dessa aliança (e de variadas correntes políticas) – e severas críticas de relevantes órgãos de imprensa nos dois lados do Atlântico.

Esbravejou contra a “inoperância” da ONU e a composição do seu Conselho de Segurança, pleiteando uma “governança global” que nunca existiu, além de um lugar nesse mesmo conselho do qual o Brasil continua distante como sempre.

Esbravejou contra o FMI e o dólar prometendo quebrar um galho para seu amigo o presidente da falida Argentina, mas é com o Fundo que o governo argentino está se acertando para obter um refresco no pagamento de parcelas da dívida.

As mais recentes diatribes têm como alvo a União Europeia, com a qual os sócios do Mercosul negociam um acordo amplo há 25 anos. Muito do que os europeus tentam impor é protecionismo mal disfarçado, o que não constitui a menor novidade. Mas a dúvida que está no ar é se Lula quer mesmo concluir as negociações, ou se as declara mortas por culpa do outro lado.

As últimas perorações do presidente brasileiro sobre integração regional e atuação conjunta em negociações multilaterais foram contempladas pelo colega presidente do vizinho Uruguai com uma severa crítica ao “imobilismo” e incapacidade de ação do bloco que Lula passou a presidir nesta semana, o Mercosul. E com a recusa em assinar um comunicado conjunto.

Boa parte do voluntarismo com que o presidente brasileiro se atirou na arena internacional carece de um plano bem desenhado. É o caso dos esforços para se apresentar como mediador da paz na guerra da Ucrânia, mas também para retomar o tradicional papel brasileiro de “líder” da América do Sul, severamente prejudicado no momento por passar o pano em ditaduras, com destaque para a Venezuela.

A existência de uma clara estratégia será testada em breve na questão do clima, devido não só a uma série de eventos internacionais nos quais se antecipa que o Brasil ocupará um lugar de destaque. Diplomatas experientes assinalam que ainda se aguarda, por parte do Brasil, propostas para cumprir os compromissos para redução de gases do efeito estufa e a regulamentação do tão falado mercado de carbono.

Diante disso, esbravejar é pouco.

 

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