O Globo
Relator promete alterações no texto nesta
quinta: estão previstos um fundo de bioeconomia para a Zona Franca e uma nova
forma de tomada de decisão no Conselho Federativo
Os dias de intensa negociação sobre a
reforma tributária criaram um ambiente de cooperação federativa depois de anos
de muita polarização e conflito. Além disso, está sendo demonstrado que a
reforma considerada impossível nunca esteve tão próxima. O ambiente está
“cooperativo” como dizem os que estão à frente da negociação, e os bloqueios
estão sendo removidos. O dia ontem passou por um encontro entre o ministro
Fernando Haddad e o governador Tarcísio de Freitas. Teve negociação sobre como
resolver o problema da Zona Franca de Manaus. E terminou com a leitura do texto
no plenário. Hoje promete ser mais um dia de grande negociação.
O governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, me disse logo cedo, antes das sete da manhã, que havia “ambiente político para votar a reforma” nesta quinta. O deputado Reginaldo Lopes naquele momento contou que era apenas uma questão de ajustes. O presidente da Câmara, Arthur Lira, se permitiu, ao longo da tarde, uma pequena comemoração prévia. “É uma felicidade estar presidindo a Câmara nesse momento”, disse. Mas ainda é preciso votar. As negociações continuaram pelo dia todo.
Será criado um Fundo de Bioeconomia para a
Zona Franca de Manaus e iniciado um período de transição, segundo explicou
Reginaldo Lopes, coordenador do Grupo de Trabalho que negociou a reforma.
— Hoje, o Amazonas tem quatro mil produtos
na Zona Franca, mas apenas 20 mercadorias são feitas realmente lá e representam
85% dos empregos. A nossa proposta é criar um fundo que vai gerando emprego em
outros setores e atividades e substituindo esses que são apenas montados na
região. Se nada for feito, a situação atual é que os quatro mil produtos terão
benefícios até 2073. Mas o próprio estado sabe que tem muitas vocações
econômicas próprias. Vai acabar saindo fortalecido. Essas distorções nunca
foram enfrentadas, mas agora com a reforma poderão ser.
Os problemas tributários brasileiros são
imensos. Encará-los é realmente um desafio. A babel tributária de 27
legislações diferentes de ICMS tem sido um peso para qualquer projeto de
desenvolvimento do país. A simplificação, ainda que imperfeita, incompleta e
lenta, será uma grande vantagem.
A dúvida de São Paulo era sobre como
organizar a governança do Conselho Federativo. No texto lido no plenário, o
relator Aguinaldo Ribeiro deixou a composição e a governança para serem
definidas apenas em lei complementar. No entanto, Ribeiro prometeu uma nova
versão nesta quinta-feira. Uma das soluções para o conselho será mudar a forma
de tomada de decisão. Era maioria simples e passará a ser por maioria absoluta,
com a exigência de maioria em cada uma das regiões do país.
— A preocupação é que nenhuma região se
sobreponha à outra, por isso terá de haver 50% de votos favoráveis em cada
região do país — explicou Casagrande.
Nesse quebra-cabeça da reforma tributária,
a cada momento se encaixa uma peça que foi negociada entre o Congresso, os
governadores, os setores empresariais, os municípios. Essa é uma reforma
diferente das outras. O ex-presidente Fernando Henrique e o presidente Lula
apresentaram projetos que não foram adiante. A atual não é uma proposta
originária do Executivo. Foi formulada por economistas, entre eles se destaca o
atual secretário especial de reforma tributária, Bernard Appy. Foi apresentada
pelo deputado Baleia Rossi através da Emenda 45. No governo Bolsonaro, foi
tratada com desprezo, que chegou a apresentar um projeto com apenas a
unificação de PIS e Cofins.0
Na atual administração, o assunto passou a
ser tratado como uma das prioridades dentro da equipe econômica, mas avançou
principalmente porque o presidente da Câmara, Arthur Lira, criou um grupo de
trabalho e o relator, o deputado Aguinaldo Ribeiro, foi negociar com cada
setor, cada partido e cada ente federado. A reforma não entrará em vigor no
curto prazo, na verdade, começa a ser implantada no começo do próximo mandato e
cumprirá um prazo até 2032. É lenta demais?
— Tem gente que acha que não precisava de
todo esse tempo, mas essa reforma só vai dar certo porque alinhamos todo mundo.
Alinhamos Câmara e Senado, setores produtivos, um pacto federativo. A proposta
não é do governo, não é de esquerda, não é de direita, segue um modelo
internacional. Se a gente der conta de aprovar isso é um sucesso — afirmou o
deputado Reginaldo Lopes.
Há ainda muitos detalhes sendo discutidos,
mas o fato é que a formação de consenso em torno de um sistema mais racional de
cobrança de impostos sobre o consumo é um grande avanço.
Valeu!
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