Folha de S. Paulo
Ameaça de confissão de Mauro Cid tem pouco
valor até agora, mas já produziu efeitos
A
ameaça de confissão feita pela defesa de Mauro Cid produziu
efeitos antes mesmo de o coronel decidir se vai realmente abrir a boca. O
principal deles foi escancarar a condição de Jair
Bolsonaro. O ex-presidente nunca esteve tão vulnerável.
O poder dava a Bolsonaro a proteção de
órgãos de controle e uma generosa boa vontade no mundo político. Depois que ele
deixou o Planalto, a blindagem se desfez rapidamente, e a
luz do dia expôs segredos que submeteram o ex-presidente a um desgaste
igualmente acelerado.
Restaria a Bolsonaro um ativo importante para se resguardar: a lealdade de aliados fiéis que testemunharam seus passos ou estiveram envolvidos nas suspeitas que recaem sobre o ex-presidente. Se o mais próximo desses parceiros vacilasse, a muralha poderia cair de uma vez.
A jogada do novo advogado de Mauro Cid
parecia ter o objetivo de reforçar essa mensagem. Assim que assumiu a defesa do
coronel, Cezar Bittencourt afirmou que o
ajudante de Bolsonaro só cumpria ordens. Também disse à revista Veja que o
militar vendeu joias nos EUA a mando do ex-presidente e que o dinheiro havia
sido repassado ao antigo chefe.
O doutor estreou com a manjada malícia dos
advogados que tratam de casos sobre organizações criminosas. Lançou na praça a
possibilidade de incriminar outros suspeitos com o objetivo de despertar o
interesse da polícia e, em especial, avisar a outros investigados que não
assumiria sozinho nenhuma acusação.
Dado o recado, o advogado ensaiou um recuo
e deixou
meias palavras no ar. Até que Cid resolva se vai falar nos autos, a
promessa tem pouco valor, mas deixa à mostra os buracos da defesa de Bolsonaro.
Se uma declaração simples de Cid sobre a
ordem para a venda das joias e o destino do dinheiro pode ser considerada
fatal, há poucos fios sustentando o ex-presidente. Afinal, a investigação já
deixa poucas dúvidas sobre aquelas transações e ainda pode oferecer caminhos
alternativos para esclarecer outras lacunas, sem uma única palavra do coronel.
Pois é.
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