O Estado de S. Paulo
Nova frente de investigação: a vaquinha de R$ 17 milhões. Foi lavagem de dinheiro?
Ao quebrar o sigilo bancário e fiscal do
ex-presidente Jair Bolsonaro e Michelle, o STF abre uma nova frente de
investigação para a Polícia Federal: a história da vaquinha de R$ 17 milhões
para pagar uma multa de R$ 1 milhão se sustenta em pé? Ou foi uma saída
criativa e parte dos depósitos foi para “esquentar” ou “lavar” o dinheiro vivo
do casal?
O esquema de venda de presentes, joias e
relógios que funcionava dentro do Planalto é demolidor para o destino e a
imagem de Bolsonaro, porque revela crime e reforça o gosto da família por
dinheiro em espécie, rachadinhas e compra e venda de imóveis. Mas isso não
explica tudo.
Não explica os quase R$ 12 milhões que o tenente coronel da ativa Mauro Cid e seus subordinados na Ajudância de Ordens movimentaram em um ano e meio, nem todos os repasses para Bolsonaro e Michelle. De onde vem o resto?
Em outros tempos, “Anões do Orçamento” na
Câmara justificavam estranhas fortunas com… a sorte, a loteria. Agora, a
estratégia é dizer que os presentes são “personalíssimos” e o casal ficou
milionário com a vaquinha. Só quem acreditou na loteria engole essa. Daí porque
a suspeita de que os R$ 17 milhões vieram bem a calhar para Bolsonaro tentar
justificar, para a PF, o Supremo e o distinto público, os valores em dinheiro
vivo.
Assim vai-se fechando o cerco e juntando as
pontas: joias e contas milionárias com as articulações do golpe, revelando,
inclusive, o envolvimento de um número crescente de militares e policiais
militares, com a cúpula da PM-DF presa na sexta-feira. Quem era, senão o
mentor, o grande beneficiário nos dois casos, das joias e do golpe?
De um lado, Bolsonaro é suspeito de receber
dinheiro, pelo menos, do relógio de diamantes. De outro, abriu o Alvorada e a
Defesa para um hacker estelionatário, que integrou a comissão de militares da
ativa que tinha tudo a ver com a minuta de golpe do então ministro da Justiça,
Anderson Torres, ao acusar fraude nas urnas. Depois, fechar o TSE, criar uma
comissão de civis e militares e anular as eleições.
Com provas e enredos tão claros, Bolsonaro
deixou evidente a Weslley Galzo, do Estadão, que a tática jurídica é assumir
(por falta de opção) a venda dos presentes e o embolso do dinheiro, alegando
que eram “presentes personalíssimos”. Polêmica saída para ele e para Cid, que
recua de “confessar tudo”.
Já a estratégia de marketing, entre
colares, relógios, diamantes e os R$ 17 milhões, é resgatar o “simplesinho”.
Daí a entrevista num boteco, tomando um pingado, falando de boca cheia.
Acredite quem quiser. No STF e na PF ninguém é bobo. Mas há milhões de crentes
por aí.
Pois é.
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