Folha de S. Paulo
Equilíbrio entre centrão e outros partidos
da coalizão pode desaguar em mudança mais ampla no futuro
A arrastada negociação para o embarque do
centrão no governo envolve uma concorrência dentro da futura base de Lula.
A disputa passa pelo mercado imobiliário da Esplanada, com o espaço cobiçado
pelos novos inquilinos e o tamanho do terreno ocupado por antigos moradores.
Na montagem do governo, Lula deu nove ministérios a partidos que não haviam feito parte de sua aliança eleitoral: MDB, PSD e União Brasil. Entraram no pacote latifúndios políticos como Cidades, Agricultura e Desenvolvimento Regional, com peso grande na distribuição de verba para os redutos dos parlamentares.
Nenhuma das três legendas devolveu uma
quantidade de votos que deixasse o Planalto perto de uma maioria no Congresso.
Lula pode alcançar essa marca com a adesão do PP e do Republicanos,
mas a barganha feita pelo governo na escolha das pastas que esses partidos vão
ocupar incomodou o centrão.
O grupo de Arthur Lira enxergou
um jogo duro nos sinais emitidos pelo Planalto. O centrão quer comandar
estruturas que facilitem o escoamento de emendas, como Esportes,
Desenvolvimento Social e Caixa. Nas últimas semanas, o governo expôs
resistências a esse plano.
Negociadores de Lula falaram em preservar
os três feudos e entregar ao centrão pastas como Ciência e Tecnologia ou Portos
e Aeroportos, além de vice-presidências da Caixa. Um aliado de Lira reagiu com
a queixa de que o governo queria apoio, mas só estava disposto a ceder
"ministérios de quinta categoria".
O argumento do centrão é que o grupo
representaria um acréscimo de 90 votos à base de Lula na Câmara, dando ao
governo uma maioria confortável. Os cargos pedidos equivaleriam ao espaço
ocupado pelo MDB, que tem 43 deputados e uma fidelidade pouco maior do que 30
votos.
Lula deve chegar a um acordo com Lira, mas
o equilíbrio entre os partidos ainda deve voltar à mesa do presidente. A
depender do apoio medido nas próximas votações, a questão pode desaguar numa
reforma ministerial mais ampla no ano que vem.
É o toma lá dá cá em ação.
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