Folha de S. Paulo
Lembram-se da frase 'É a economia,
estúpido!'? Então... É a política!
Quando se divulgaram os dados do primeiro
turno das eleições
do ano passado, que anunciavam a composição do Congresso,
não conheço uma só alma, e eu mesmo estava entre elas, que não tenha se deixado
tomar pelo pessimismo. Dado que Lula era o
favorito no segundo turno, antevia-se o cenário de um presidente
"progressista" —para empregar um termo mais abrangente— com o
Congresso mais reacionário da história em tempos democráticos. E efetivamente o
é. O temor era óbvio: a paralisia ou a ingovernabilidade. E, no entanto, o país
se move.
"É a economia, estúpido!", sentenciou em 1992 James Carville, assessor do então candidato democrata à Presidência dos EUA, Bill Clinton, ao definir a frente principal de combate ao adversário republicano, George Bush, o pai, candidato à reeleição. É uma dessas divisas que, parafraseando o filósofo bigodudo, já "nascem póstumas". Ela ganhou tal força que praticamente amarrou a ciência política a uma espécie de determinismo: se a economia vai bem, o governismo vence eleições; se vai mal, perde.
Pois é... Com alguma frequência, parece-me
que se deve considerar: "É a política, estúpido!". É claro que uma
economia esfrangalhada não ajuda ninguém a vencer uma disputa ou a governar um
país, mas ignorar o peso que têm as escolhas políticas nas disputas pelo poder
será sempre um erro. Foi a fricção puramente ideológica, em tempos de redes
sociais e num ambiente devastado pela Lava
Jato, que levou Jair —um
falso Messias e um verdadeiro Bolsonaro— à Presidência. E foram suas
decisões nessa área, mesmo beneficiado pelas facilidades inconstitucionais que
conseguiu arrancar do Congresso e do Supremo na
boca da urna, que acabaram decidindo a sua derrota, ainda que por margem
estreita.
Tenho andado —e não estou só— numa certa
contramão dos que asseguram a primazia da economia sobre a política quando se
trata de analisar, com algum grau de antevisão, a sorte do governo Lula. Lá
onde se previu, por exemplo, o compromisso com a catástrofe, ainda em novembro
do ano passado, quando se articulava a PEC
da Transição, eu vi uma solução. E é evidente que a percepção, quase
solitária no meu meio, deixou-me um tanto apreensivo. Sabe como é... Sempre
devemos tomar cuidado para não ficar trocando ideias com espectros... O
resultado não costuma ser muito bom, como constatou aquele príncipe da Dinamarca...
Mas acho que eu estava certo. A PEC era um
primeiro ensaio para constituir o núcleo da futura base de apoio, cuja
ampliação está em processo. Com ela, foi possível saldar as contas deixadas no
vermelho pelo golpista fujão e hoje rei do Pix —ainda
vestirá roupa de couro, de chicotinho na mão, como Tatá Werneck em
"Terra
e Paixão", mas sem talento e graça—; reestruturar os programas sociais
destruídos pela razia fascistoide e dar o passo inicial para pôr fim ao teto de
gastos e caminhar para o novo arcabouço
fiscal.
Os catastrofistas do, lá vai um neologismo,
"economismo" —evito "economicismo" porque este supõe
"economicidade"...— estão sendo, felizmente, vencidos pelos fatos.
Não vai aqui disposição para a polêmica, embora dela não fuja se preciso, mas o
fato é que aqueles bravos cobravam de Lula um corte de gastos, como pressuposto
de qualquer ajuste, que jamais passaria pelo crivo de um Congresso poderoso
como jamais e, em princípio, hostil.
O marco fiscal depende agora da chancela
final da Câmara, e está em curso a reforma tributária. Há pouco mais de quatro
meses, a ata do Copom ameaçava com uma elevação da já pornográfica taxa
de juros;
nesta quarta, Roberto
Campos Neto compôs a maioria em favor de corte
de 0,5 ponto da Selic. Pequeno,
sim, mas parece ser o fim da catatonia reacionária. A Economist aponta que os
investidores internacionais veem com bons olhos o Brasil e registra a
habilidade de Fernando
Haddad, ministro da Fazenda. E pergunta sobre o país:
"Decolagem?"
Pode-se sustentar que tudo o que tem
acontecido de positivo se dá apesar de Lula. É um jeito de ver as coisas. E não
é o meu. Enquanto isso, a extrema direita produz indignidades na CPI do MST e na CPMI do
golpe, tem de prestar contas à Polícia e brada: "Pix, manda
Pix!". É a política, estúpido. O país se move.
Este ano, do governo federal, até agora nada!
ResponderExcluirTem âncora fiscal? Não tem âncora fiscal. Até agora, não tem! Está vindo uma, que está sendo discutida no Congresso, mas até aqui o Brasil não tem âncora fiscal. Tem reforma tributária? Não tem reforma tributária! Poderá miraculosamente, depois de 30 anos de preparação, enfim ter uma reforma tributária, mas será mais para o fim do ano.
E mesmo o que vier, âncora fiscal e reforma tributária e mais, 2024, 2025, 2026 e seguindo dependerá de arrecadação extra de receita ; como não teremos crescimento econômico substancial, qualquer aumento de arrecadação de receita significará aumento de carga tributária, e a economia do Brasil não aguenta pagar mais imposto.
Eu torço pelo melhor, só não vejo como melhor o que se apresenta, "eu vejo um museu de grandes novidades".
O Brasil está se segurando no que vem do agronegócio e na competência e coragem de Roberto Campos em contrariar a politização da política monetária, evitando que a Monetária seja piranhada, como fazem com o Orçamento e com a Política Fiscal !
Se o Brasil está conseguindo começar a baixar os juros, isso se deve ao preparo e perícia de Roberto Campos em navegar em mar turbulento e cheio de pirataria e conduzir com segurança a Política Monetária do Banco Central. Mas política monetária é apenas contenção a insuficiência ou ausência de política fiscal, não é projeto de país! Amanhã, quando ao menos a âncora fiscal passar a existir, a reforma tributária estiver sendo implantada e outras reformas forem feitas, e se a política fiscal estiver sendo implementada com real responsabilidade, possa ser que o Brasil comece a melhorar de forma sustentada, mas hoje, o que está segurando as pontas da economia no nosso país para que não desabe é o que vem do sucesso do agronegócio e a ancoragem que está sendo feita pelo BC e o COPOM, diante da falta ou insuficiência de atuação do poder executivo, diga-se, na falta de projeto de governo deste Lula3.
O Lula,pode não ser grande coisa,mas é o melhor que temos,estou feliz.
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