Folha de S. Paulo
Presidente compra novo constrangimento
público com o grupo para destravar medidas de redistribuição
Lula lançou o
Congresso contra a parede para destravar uma pauta que ele trata como
prioridade. O presidente reforçou uma plataforma de redistribuição de renda,
defendeu propostas que ampliam a taxação dos mais ricos e disse que deputados e
senadores "não votam a favor dos interesses da maioria do povo".
"Eu espero que o Congresso
Nacional, de forma madura, ao invés de proteger os mais ricos, proteja os
mais pobres", disse o petista nesta terça (29). "Vamos fazer esse
debate para a sociedade perceber quem é que está do lado de quem."
O alvo de Lula é o mesmo centrão que está prestes a entrar no governo. Apesar do acordo, o petista recebeu todos os sinais de que a turma que dá as cartas no Congresso está ansiosa para extrair benefícios da parceria, mas não vai se converter a todos os itens da agenda do presidente.
O petista viu o centrão apoiar propostas
que contavam com a boa vontade de operadores econômicos, mas trata essa aliança
como adversária de uma política redistributiva que ele levantou na campanha e
pretende imprimir como marca do mandato.
Lula fez as contas para que o reajuste do
salário mínimo e a ampliação da isenção do Imposto de Renda coincidissem com o
envio ao Congresso de propostas para taxar
aplicações fora do país e os rendimentos dos chamados super-ricos. A ideia
era mostrar que a agenda econômica do governo pode superar uma fase de ajustes
e alcançar o que os petistas descrevem como justiça social.
O presidente sabe que o centrão não votaria
contra medidas populares como o aumento do salário mínimo, mas esses
parlamentares têm resistências nada discretas à tributação dos mais ricos. Sem
poder suficiente para fazê-los mudar de ideia, Lula usa a arma do
constrangimento público e recorre
à conhecida cartilha da disputa de classes.
Ao pressionar os parlamentares, o
presidente reconhece que governo e centrão devem viver uma queda de braço
permanente. A flutuação da popularidade de Lula pode favorecer um ou outro lado
da briga.
Verdade.
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