Folha de S. Paulo
Astuto, Lula procrastina reforma para
suavizar efeito da entrada do centrão no governo
Há quem considere que o presidente da
República tenha errado ao deixar seus ministros anunciarem a dita reforma
ministerial para em seguida ele mesmo procrastinar o
ato formal da atração de deputados da chamada oposição.
Luiz Inácio perdeu o "timing",
dizem nas entranhas do Congresso os
mais impacientes. Mas Lula, em sua
astúcia, pode ter optado por dar esse enorme tempo ao tempo no intuito de normalizar
a entrada do centrão no governo.
Tivesse batido o martelo lá atrás, em meio à demissão da então ministra Daniela Carneiro, do Turismo, provavelmente seria alvo de pesadas críticas devido à adesão ao fisiologismo explícito, ao toma lá dá cá de raiz.
Hoje, transcorridos três meses entre
intenção e gesto, ninguém mais estranha. Ao contrário, exige-se de Lula
ligeireza na execução do lance. O que antes renderia desaprovação, agora produz
cobranças pela imediata materialização da manobra de cunho pragmático, pensada
para conquistar votos no Parlamento a projetos de interesses do Planalto.
Resolvido o problema da grita negativa,
pelo visto o presidente não tem pressa. E, nesse aspecto, atende às demandas da
direção do PP e da mais ilustre figura do Republicanos,
o governador Tarcísio
de Freitas, que são contra a entrada de seus partidos na base governista.
Dessa forma, Lula dá espaço para que eles
marquem suas posições. Faz isso sem alterar o projeto de cooptação de
opositores pontuais, cujo combinado não inclui que a mudança de oposição para
situação se estenda aos palanques eleitorais.
Uma coisa são as votações no Congresso onde
houver concordância doutrinária. Nessas, o governo terá votos até dos infiéis.
Outra coisa será a posição deles nos temas em que a questão ideológica
distancie as altezas daquelas legendas dos desejos palacianos.
Aí haverá de ser cada um por si e o deus do
eleitorado por todos em nome da sobrevivência dos respectivos mandatos.
Sei.
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