Folha de S. Paulo
Bolsonaro protagonizou esquema mequetrefe
de apropriação indevida e abuso do poder
A canoa de Jair
Bolsonaro virou, e foi ele quem deixou ela virar, conforme atestam
os fatos e
agora dois de seus comparsas na trajetória de ilicitudes que fatalmente o
levarão à prisão. Mauro Cid e Walter
Delgatti resolveram dar com a língua nos dentes a fim de atenuar os
danos às respectivas peles.
Quando começa assim, o efeito dominó é
inevitável. Outras confissões apontando o ex-presidente como mandante dos
crimes contra a saúde pública, o Estado de Direito, o sistema eleitoral e a
reputações alheias virão.
Os dias de liberdade de Bolsonaro estão contados. A ele resta a esperança de que seja visto como vítima de perseguição e, lá na frente, possa dar a volta por cima. Mira-se no exemplo de Luiz Inácio da Silva sem, no entanto, levar em conta as abissais diferenças entre as figuras e as circunstâncias de um e de outro.
O hoje presidente da República, depois de
ter passado 580 dias preso, jamais produziu as provas que o antecessor fabricou
contra si. Lula foi
acusado de ter sido favorecido por um intrincado e até sofisticado esquema
de corrupção envolvendo
empresários amigos e políticos aliados. Safou-se em função de procedimentos
indevidos, mudanças de regras e de entendimentos na Justiça.
Já Bolsonaro protagonizou projeto
mequetrefe de apropriação indevida do poder, cuja execução foi entregue a
operadores igualmente chinfrins.
Um presidente que abre as portas do
Palácio, do Ministério
da Defesa e do próprio partido a um estelionatário pago por uma
deputada amalucada, e ainda manda o ajudante de ordens vender presentes de
Estado para embolsar um dinheiro, não dá margem a qualquer dúvida razoável
sobre sua culpabilidade, fechando o caminho de eventuais brechas legais.
Jair Bolsonaro subestimou a República, fez
pouco do Brasil, desdenhou da solidez das instituições, menosprezou instâncias
de controle e investigação. Por isso se vê na iminência de pagar pelas pragas
que rogou ao país.
Fato.
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