O Globo
O governador tem preparo e sabe do que está
falando
Depois do anúncio de uma iniciativa
desastrada para levar a pedagogia da rede pública de ensino de São Paulo para
plataformas digitais, o governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, pareceu ter corrigido o curso, anunciando:
— Nós vamos encadernar [o material] e
entregar impresso, encadernado. Ou seja, se o aluno quiser estudar
digitalmente, ele vai poder, se ele quiser estudar no conteúdo impresso, ele
também vai ter essa opção.
Se Tarcísio tivesse chegado ao governo de São Paulo depois de ter feito fama plantando couve, essa declaração seria aceitável. Ele foi um aluno estelar do Instituto Militar de Engenharia. Depois foi um administrador severo na faxina do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e um correto ministro da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro. Com essas credenciais, sabe do que está falando e, por saber, passou da pedagogia da truculência para a da enrolação.
Um caminhão e uma locomotiva são meios de
transporte, mas não se podem colocar locomotivas em estradas nem caminhões
sobre trilhos. O mesmo acontece com o material escolar impresso e os livros ou
apostilas colocados em plataformas eletrônicas.
Deixe-se de lado a questão dos custos e da
disponibilidade de equipamentos para a impressão dos volumes, o que não é pouca
coisa. O governador se queixa porque “tudo vira polêmica, mas eu acho que as
coisas às vezes são mal comunicadas por nós mesmos”.
Seu secretário de Educação,
Renato Feder, anunciou que dispensaria os livros impressos do Ministério da
Educação, migrando para as plataformas eletrônicas. A natureza truculenta da
comunicação passou por cima da sua própria essência polêmica: a migração do
livro impresso para o eletrônico. Há aí uma saudável polêmica, desde que, como
toda polêmica, abrigue um debate.
O uso de equipamentos eletrônicos nas
escolas é uma janela para o futuro, mas a experiência de Pindorama nessa área
tem mais a ver com malfeitorias de todos os tempos. Estão aí os kits de robótica
superfaturados que foram para prefeituras alagoanas. Também esteve aí a compra
bilionária de laptops pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,
barrada pela Controladoria-Geral da União.
O secretário Feder disse que, neste
semestre, poderá distribuir para estudantes 20 mil celulares apreendidos pela
Receita Federal. Como, não explicou. Sabe-se que o secretário é acionista de
uma empresa que vendeu ao governo de São Paulo, na administração passada, 97
mil notebooks, pelo valor de R$ 200 milhões.
Atrás dos livros didáticos impressos existe
um mercado bilionário, e atrás da pedagogia digital existe outro, mais
complexo. A Bíblia de Gutenberg, impressa no século XV, está nos museus e, além
dos cuidados de limpeza, não exige manutenção. As plataformas eletrônicas
exigem manutenção permanente e dispendiosa.
A ideia segundo a qual um estudante pode
optar pelo livro impresso ou sua versão eletrônica é pura enrolação. Se o
governador e seu secretário querem modernizar o ensino público de São Paulo,
podem fazê-lo sem truculência ou enrolações.
Basta que se movam ao ritmo da burocracia,
evitando a sofreguidão, muitas vezes tóxica, do ritmo de empresários
interessados em fechar negócios.
Perfeito
ResponderExcluirPerfeito
ResponderExcluirPerfeito.
ResponderExcluirTarcísio, o encadernador! Ou enganador mesmo?
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