quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Bernardo Mello Franco - A República dos patetas

O Globo

Lorotas de Anderson Torres e artimanhas de Mauro Cid combinam com espírito do governo Bolsonaro

Anderson Torres disse à CPI que a minuta do golpe era “imprestável” e seria jogada no lixo. Então por que o documento estava guardado no armário de seu quarto? “Por mero descuido”, respondeu o ex-ministro de Jair Bolsonaro.

Em depoimento nesta terça, o delegado abusou das histórias da carochinha. Sem corar, repetiu a conversa de que não entregou o celular à polícia porque teria perdido o aparelho na Flórida. O bolsonarista deveria cuidar da segurança de Brasília, mas voou para a Disney às vésperas dos atos golpistas.

“O senhor deve estar achando que aqui nesta CPI tem algum Pateta”, protestou o deputado Duarte Jr. A indignação é justa, mas as lorotas de Torres combinam com o governo que ele integrou.

Nos últimos dias, o noticiário expôs novas trapalhadas da turma. O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, tentou vender um relógio que o chefe recebeu em viagem oficial. Festejado como primeiro de turma na Academia Militar, foi flagrado atuando como um camelô de farda.

Na segunda-feira, soube-se que assessores do capitão tentaram apagar 17 mil e-mails antes de deixar o Planalto. Os oficiais chegaram a excluir as mensagens, mas se esqueceram de apagá-las da lixeira. Numa delas, ficou documentada a tentativa de contrabando do Rolex.

Ao investigar a depredação do Congresso em 8 de janeiro, a Polícia Legislativa fez outra descoberta intrigante. Invasores produziram provas contra si mesmos ao cadastrar seus nomes e CPFs na rede wi-fi da Câmara. Foram traídos pelo desejo de postar selfies e vídeos na cena do crime.

Os seguidores do Mito não perdem uma chance de mostrar sua perspicácia. Segundo dados do Coaf, eles doaram R$ 17 milhões para o ex-presidente via Pix. Bolsonaro pediu ajuda para pagar multas e transferiu R$ 14 mil para a lotérica do irmão. Questionado sobre os repasses, disse que torrou tudo em apostas na Mega-Sena.

É desalentador pensar que o país passou quatro anos nas mãos desses personagens. Se serve de consolo, o amadorismo dos patetas pode encurtar seu caminho para a cadeia.

 

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