Folha de S. Paulo
Quem lê em papel retém melhor as
informações aprendidas
Trocar
inteiramente livros didáticos físicos por produtos digitais nunca
foi uma boa ideia. Ainda que a tecnologia possa tornar as aulas mais atraentes,
incorporando rico material de apoio, há uma montanha de evidências empíricas
mostrando que a leitura em papel é mais eficaz do que a em tela. No suporte
tradicional, o leitor dedica mais atenção à atividade e retém melhor as
informações aprendidas.
Não é um efeito muito forte, mas ele aparece de forma consistente na maior parte dos estudos. Os livros da neurocientista Maryanne Wolf sobre o assunto são uma excelente fonte de dados e interpretações.
Uma parte do problema é fácil de explicar. O sujeito que vai ler um livro no
computador ou no celular facilmente se deixa distrair pelas múltiplas tentações
da internet. A luz oscilante das telas também torna a tarefa mais cansativa.
Quando passamos das telas para dispositivos
de leitura como o Kindle, em que a internet não está tão disponível
e que trocam a luz azul pela tecnologia do papel líquido, os efeitos adversos
se reduzem, mas não desaparecem. Uma hipótese para explicar a persistência da
diferença é que há fisicalidade na leitura.
Virar páginas e monitorar pelos olhos o
avanço do processo ajudam o cérebro a montar os mapas mentais em que ele se
apoia para realizar tarefas e memorizar informações. No caso da escrita, o
vínculo entre a parte motora (desenhar as
letras) e o aprendizado já está bem estabelecido.
Essas conexões inesperadas se tornam menos
misteriosas se considerarmos que a leitura e a escrita, ao contrário da linguagem
falada, são novidades em nossa história evolutiva. Ainda não desenvolvemos
estruturas cerebrais especializadas para lidar com elas. O que fizemos foi
cooptar outras estruturas. O reconhecimento de letras, por exemplo, se dá na
mesma área que reconhece rostos. Desse amontoado de gambiarras e puxadinhos,
aparecerão mesmo algumas surpresas.
Muito bom o artigo,devia ser maior um pouco.
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